AS CINCO ESTRATÉGIAS PARA SERMOS MAIS EMPÁTICOS

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Na Índia, o cumprimento habitual entre as pessoas é Namasté e esta foi a primeira ideia que me surgiu sobre a prática da empatia.

Namasté, do sânscrito, significa “o divino em mim saúda o divino em ti”. Que existe de mais empático se não o nosso melhor saudar o melhor do nosso semelhante? E de mãos unidas em frente ao coração, em sinal de respeito.

Não sei quando depararam com a palavra empatia pela primeira vez. No meu caso, não foi nem na escola, tão-pouco na Universidade. À época, reinavam as hard skills como donas e senhoras das relações interpessoais. Foi mesmo em contexto laboral, há cerca de 15 anos, quando editava um texto sobre um workshop de soft skills dirigido a Colaboradores da instituição onde trabalhava. Já no século XXI, portanto, e estive quase a corrigir por simpatia.

Aliás, quando li a palavra empatia pela primeira vez, nem lhe percebi a conotação positiva. Talvez por me ter soado a empata. Tive de ir à origem etimológica: do grego, empatheia, que significa paixão. Este workshop centrava-se na empatia enquanto competência a desenvolver para obter melhores resultados. Uma lufada de ar fresco que anunciava uma mudança no paradigma empresarial, por exemplo, nas áreas de vendas, onde a escuta ativa – ou a empatia – se torna tanto ou mais importante que o conhecimento de técnicas de persuasão.

Ora o essencial a reter é que a empatia é uma competência, por isso, passível de ser trabalhada, e não um traço de personalidade. Então, como desenvolvê-la?

Primeiro, o que nos dizem de relevante sobre o conceito, Dicionários e experts na matéria. De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, empatia é “o processo de identificação em que o indivíduo se coloca no lugar do outro, e com base nas suas próprias suposições ou impressões, tenta compreender o comportamento do outro; é a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende etc.”; difere, por isso de simpatia, enquanto “afinidade moral (…) relação que há entre pessoas que, tendo afinidades, se sentem espontaneamente atraídas entre si”; e também de compaixão, “sentimento piedoso de simpatia com a tragédia pessoal de outrem, acompanhada do desejo de a minorar; participação espiritual na felicidade alheia”.

Para Jamil Zaki, professor de psicologia da Universidade de Stanford, autor do livro The War for Kindness: Building Empathy in a Fractured World., orador TEDx e estudioso da empatia há cerca de duas décadas, “a empatia é o equivalente humano a um recurso natural, e renovável.” Infelizmente, a investigação demonstra que a sua prática caiu consideravelmente com a fraturação política (principalmente após a vitória de Trump), a crise de refugiados, a competição desenfreada nas empresas, a forma como utilizamos a Internet etc – daí a The War for Kindness. Empatia é, tal como a psicologia a interpreta (segundo o autor), um termo-chapéu que engloba três formas de nos ligarmos às emoções uns dos outros. Uma é a empatia emocional, que capta exatamente os sentimentos de outra pessoa. Se alguém leva com uma bola na cabeça, é como se eu também sentisse um pouco da dor. A empatia cognitiva é a tentativa de compreender o que outra pessoa está a sentir e porquê. Aqui sem sentir a dor. E depois a compaixão empática enquanto motivação para melhorar o bem-estar dos outros.

A Wikipedia simplifica o conceito abrangente da seguinte forma “colocar-se no lugar do outro, porém sem perder nunca essa condição de ‘como se’”. Empatia é partilha, é compreensão, é conexão.

Saibam, pois, que na Dinamarca as crianças têm aulas de empatia como parte do currículo oficial desde 1993. Segundo o World Happiness Report, um estudo anual patrocinado pela ONU, a Dinamarca é o segundo país mais feliz do mundo, perdendo apenas para a Finlândia, sendo a educação um fator crucial para que esta nação seja tão feliz.

Aulas como empatia emocional e cognitiva são obrigatórias neste país nórdico, cujo currículo se centra no desenvolvimento das habilidades e talentos dos estudantes dos 6 aos 16. Os alunos são também desencorajados à competição e estimulados a conversar sobre os seus problemas e sentimentos, a aceitar as diferenças, a promover a escuta ativa. Diferente do sistema de ensino da maior parte do mundo, portanto. As aulas do Klassens tic decorrem todos os dias durante uma hora e não é preciso ser pedagogo para saber o quanto esta realidade reduz o bullying e constrói adultos mais seguros, confiantes e bem com eles próprios. E é esta, para mim, a verdadeira acepção de sucesso.

Em Portugal, foi criado em 2018 um projeto chamado “Escolas de Empatia” da Organização Não Governamental Par – Respostas Sociais, que nasceu de uma adaptação do projeto europeu Houses of Empathy, com o principal objetivo de reduzir os elevados índices de violência entre pares no contexto escolar, através da promoção de competências pessoais e sociais, privilegiando o papel da empatia. Está a ser implementado em parceria com a Associação de Pais na Escola Básica do 1º Ciclo e Jardim de Infância Teixeira de Pascoais, em Alvalade, tendo como público-alvo todas as crianças do 1º ciclo desta escola. Espera-se o alargamento a todo o país.

A pediatra Marcela Pires Guerra partilha da importância de ensinar empatia às crianças desde cedo, “falando-lhes de várias situações que são diferentes das que elas assistem no dia a dia; quanto mais próximas da idade delas, melhor, para que consigam captar pontos comuns. Quando lhe pedimos um exemplo, refere: “Sim, é importante falar do que se vive atualmente no mundo, em países como o Afeganistão que regrediu para uma realidade duríssima. As nossas crianças devem compreender, num discurso adequado à idade delas, porque vão à escola e aqueles meninos não, porque eles têm de ajudar os pais a trabalhar, a diferença de oportunidades, de tratamento das mulheres e meninas, etc.”

Na verdade, a empatia irrompeu pelo léxico dos portugueses a partir da pandemia. E se fosse connosco? Desdobraram-se iniciativas para mitigar o sofrimento das pessoas que se viram sem trabalho, sem capacidade de alimentar os filhos, sem máscaras. Dou como exemplos a Caixa Solidária, idealizada por Nuno Botelho, que colocou caixas nos mais variados bairros de Lisboa, sob o mote  “Leve o que precisar, deixe o que quiser” ; e a Máscara Solidária, em que Carlos Valeriano, formador em design e confeção, desenhou um modelo de máscara em tecido, passível de ser replicada e que, com a colaboração de outros promotores da iniciativa, pudesse ser entregue nos lares de todo o país. Houve também vários webinars, entre os quais saliento aquele organizado pelo ACP, sob o desígnio “2020. É tempo de Empatia, Como nos reinventarmos em tempo de crise?”

E como nos podemos então tornar mais empáticos?

Segundo Jamil Zaki, “We’re experiencing an empathy shortage, but we can fix it together”. Se por um lado, é-nos natural abrir à condição “como se”, por outro não somos capazes de empatizar com quem tem, por exemplo, visões políticas ou culturais opostas às nossas. Como ter empatia por racistas ou neonazis? O autor apercebeu-se também que as pessoas abdicam da empatia em favor da raiva, do julgamento e da lealdade à tribo. “The overarching technique is empowering people and getting them to realize the fact that even though empathy is difficult, it doesn’t mean they’re hopeless,” enfatiza.

Assim, aponta cinco estratégias para desenvolver empatia, retiradas de artigo da mashable:

 1. Compreender que a empatia é uma competência, não um traço de personalidade

Embora os humanos herdem uma predisposição genética para a empatia, a investigação demonstra que as nossas experiências influenciam esta, cá está, competência. Está provado, por exemplo, que aqueles que experimentam sofrimento tornam-se frequentemente mais empáticos.

2. Aumente o contacto com pessoas fora do “seu círculo”

Esta é uma maneira de abrigarmos menos preconceitos. Zaki argumenta que se pode praticar isto – literalmente – conhecendo pessoas fora dos grupos habituais e procurando histórias de ficção e não-ficção que permitam fazer uma “viagem mental” ao mundo de outras pessoas.

3. Praticar a auto-compaixão.

“Não estou a argumentar que a empatia é a cura de tudo ou mesmo o estado certo para viver o tempo todo”, salienta Zaki. “A versão ideal da empatia humana não é aquela em que sentimos a dor de todos e nos esgotamos no nada”.

Zaki receia que esta forma de pensar possa realmente diminuir o nosso desejo de sentir pelos outros. Em vez disso, ele defende a auto-compaixão, que não só proporciona uma ferramenta para modular a empatia conforme necessário, mas também facilita a expressão dessa emoção.

A auto-compaixão pode ser cultivada através da meditação.

4. Utilizar a Internet de forma sensata.

Zaki salienta que as pessoas são constantemente impelidas para ou afastadas do exercício da empatia graças a forças que vão além da sua consciência. A Internet é uma delas, podendo amplificar ações e comportamentos de que não nos orgulhamos.

Em alguns casos, a Internet pode aumentar a empatia através do contacto com pessoas de fora e as suas histórias. Noutros, a Internet pode rapidamente destruir essas relações, elevando o discurso e os comentários, como assistimos a cada segundo nas redes sociais, ferventes de raiva e de comportamentos irracionais. A conceção persuasiva da Internet tira partido desses instintos com as suas notificações e feedbacks instantâneos.

Se acharmos cada vez mais difícil permanecer em silêncio ou refletir antes de comentarmos, é provável que a forma como estamos a utilizar a Internet esteja a afetar a nossa capacidade de empatia.

5. Ajudar a construir sistemas empáticos.

Zaki afirma que as pessoas podem canalizar a sua empatia para os esforços de construção de “sistemas de bondade”. Isto significa a mudança do que é valorizado nos locais de trabalho para abranger formas de fazer da bondade uma expectativa que é reconhecida e recompensada.  Zaki destaca um programa de formação policial no Estado de Washington que ensina os cadetes a agir com bondade e consequentemente, justiça e empatia, e descreve como dezenas de escolas adotaram um “currículo de bondade” para as suas salas de aula.

“Não somos meros indivíduos a lutar para empatizar num mundo de crueldade”, realça. “Somos também comunidades, famílias, empresas, equipas, cidades, e nações que podem construir bondade na nossa cultura, transformando-a na primeira opção das pessoas.”

Por isso, sejamos mais empáticos…e menos empatas. Namaste!

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