“também me custa sobreviver a estes dias, mas o que ainda não chegou é infinito”.
Cláudia R. Sampaio
2020. Surreal. Fomos desafiados pelo absurdo, pelo impensável. Parece que em março de 2020, seguimos um coelho branco e caímos na sua toca. Going down the rabbit hole… e acabar aos trambolhões, em choque, numa Covidland, meio desorientados, meio incrédulos, totalmente confinados, num mundo inesperado, tão caótico quanto estático.
Assisti, há dias, a uma sessão online “20-21: Turning the Page” que começou com duas perguntas: “Qual foi o momento mais importante para si este ano e o que aprendeu em 2020 que irá levar para 2021″?. Ouviram-se vozes de várias partes do mundo:
Aprendi a ter paciência
Que tudo vai passar… e nada é constante
Construí uma casa na árvore
Senti que tudo estava parado…
Perdi um familiar no final de março
Aprendi que a espiritualidade é mais importante do que qualquer outra coisa
A importância do tempo e de ter tempo
Aprendi a agir pelas pessoas e causas que me são próximas
Humildade
Que as pessoas são mais adaptáveis e resilientes do que esperávamos
Aceitação
O poder da quietude e de olhar para dentro
Desacelerar
Aprendi que o amparo pode vir de lugares inesperados
Escrevi um romance
Gratidão
Aprendi a apreciar as pequenas coisas da vida
E hoje comprei uma agenda/diário para 2021. Uma agenda com obras de René Magritte (1898-1967), pintor belga surrealista mais conhecido pelos seus homens de chapéu de coco, pela maçã verde, pelo seu “ceci n’est pas une pipe”. Ou “une pomme”.
Há anos que não comprava uma agenda. Terá sido pelo desejo que o ano 2020 acabe o mais depressa possível? E que o ano novo que se aproxima caiba numa agenda? Talvez. Ao folhear as páginas dos vários dias que temos pela frente, entre quadros de Magritte, semanas em branco e dias enquadrados por finas linhas pretas, volto à primeira página. A obra L’Entrée en Scène enquadra a semana de transição.
E 2021?
“Would you tell me, please, which way I ought to go from here?” perguntou Alice.
“That depends a good deal on where you want to get to.” respondeu o Gato.
“I don’t much care where”, respondeu Alice.
“Then it doesn’t matter which way you go,” respondeu o Gato.
“So long as I get SOMEWHERE.”, acrescentou Alice.
“Oh, you’re sure to do that,” disse o Gato. “if you only walk long enough.”
Alice’s Adventures in Wonderland by Lewis Carroll