Amanda Gorman é uma jovem de 22 anos, poeta e ativista norte-americana que “saltou para as luzes ribalta” depois de ter participado na cerimónia de tomada de posse de Joe Biden, como novo Presidente dos Estados Unidos da América.
Amanda leu o poema “The Hill We Climb”, ou melhor não leu. Viveu-o, sentiu-o, encarnou as palavras ditas nos gestos, na voz, no olhar. Foi uma performance poética com garra, sentimento e certeza.
Apesar do texto ter sido escrito no contexto politico e social norte americano e de ter referências especificas à sua história, podemos encontrar reflexões e pensamentos transversais a qualquer nacionalidade, raça ou género.
O poema foi traduzido para português pela poeta Raquel Lima, com o nome “ A Colina que subimos”, do qual gostaria de citar alguns versos. Irei descontextualizar, provavelmente, as palavras de Amanda Gorman, sem querer adulterar o espírito do texto, mas tentando retirar o que poderá ser essência universal.
Porque falo disto? Porque os nossos jovens precisam de apoio nesta época em que a Pandemia lhes retirou a Liberdade de viveram o pleno da sua juventude. E as palavras e exemplo de uma jovem adulta de 20 e poucos anos poderá ter um impacto positivo. Uma influencer poética…
Quando amanhece, perguntamo-nos
‘onde encontrar luz nesta interminável sombra?’
Sabemos que não está a ser fácil. O isolamento social que vos está a ser pedido é contranatura à vossa ânsia de contato. De toque. De beijos. De convívio e partilha. Das brincadeiras no recreio às noites de loucura, dos sapatos altos e batom, do perfume estrategicamente colocado, da barba feita ou não para dar estilo. E os ecrãs dos telemóveis e dos computadores não foram pensados para assistir a aulas de Português, Matemática, TIC ou Filosofia, de pijama.
Porém, a aurora é nossa antes de sabermos.
De alguma forma a fazemos.
De alguma forma resistimos e testemunhamos
uma nação que não está falida, mas simplesmente interrompida.”
Sabemos que estão ansiosos. Sabemos que têm dias que não dormem bem. Que a tristeza, muitas vezes, vos paralisa. Que a vontade do que quer que seja é pouca. Que se sentem perdidos. É normal. Também nós, adultos, temos os nossos dias. Mas estamos aqui.
Se quisermos viver à altura do nosso tempo,
então a vitória não residirá na lâmina,
mas em todas as pontes que construímos.
Essa é a promessa-clareira, a colina a subir, se assim ousarmos.
Falem sobre o que sentem com família e amigos. Não se isolem de conversas também. Sem medos ou culpas. Peçam ajuda se a colina a subir vos parecer demasiado dolorosa. Se as pernas vos parecerem pesadas. Caminhem juntos, respirando o ar do consolo.
Assim, enquanto outrora perguntávamos ‘como é possível vencermos a catástrofe?’,
agora anunciamos: ‘Como será possível a catástrofe vencer sobre nós?’
Acreditar que têm uma vida à vossa frente. Que não é fácil nem será muitas vezes. A incerteza é uma realidade. Acreditar no vosso valor, na vossa força de ultrapassar obstáculos e desafios. Acreditar que ainda vão dançar muito pela vida fora e beber copos com os amigos sem ser num mundo em que as máscaras vos escodem o sorriso. Acreditar que pode demorar, mas, também isto, vai passar.
Quando amanhece, nós saímos da sombra, ardentes e sem medo.
Uma nova aurora floresce enquanto a libertamos.
Porque há sempre luz,
se tivermos coragem suficiente para a ver,
se tivermos coragem suficiente para a ser.
Coragem. Tentem encontrar a serenidade possível nesse fogo de juventude que vos é devido e legítimo, mas que está em lume brando, por agora. A chama vai voltar. Acreditem. E subam a colina ao vosso ritmo.
Imagem: Instalação The Cosmonauts, the Cavern and the Angel, (2019), de Olivia Hernaïz. Exposição Art Cares Covid. Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique. Bruxelas, fevereiro 2021.