Este texto foi escrito à flor da pele. Não da pena, mas do teclado. Falar sobre empatia numa altura em que nos apetece, por vezes, ser tudo menos empáticos, é um desafio. Estamos divididos. Não estamos juntos. A Pandemia dividiu para reinar.
Uns dizem que sim, outros dizem que não. Um dia é preciso, no outro, se calhar, já não. Ninguém tem a certeza de nada, todos têm a certeza de tudo. Uns estão com medo, outros acham isto um flop. Uns seguem as regras que se impõem, outros acham que estamos a ser controlados pelas regras. Uns vão para esquerda, outros para a direita. Andamos à trolha. A Pandemia despertou o melhor que há em nós quando somos solidários. Despertou o menos bom que há em nós quando a paciência chega ao limite e a tolerância atingiu temperaturas abaixo de 0. Congelámos a tolerância. A mim me incluo, algumas vezes.
Uma das razões poderá ser da Fadiga Pandémica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Fadiga Pandémica é a “desmotivação para seguir comportamentos de proteção, que emerge ao longo do tempo e é afetada por um número de emoções, experiências e perceções”. Conceito, também explorado, pela Ordem dos Psicólogos: A “fadiga da pandemia” refere-se a um sentimento de sobrecarga, por nos mantermos constantemente vigilantes, e de cansaço, por obedecermos a restrições e alterações na nossa vida.”
E é compreensível. Acrescenta ainda o documento: “Não é fácil perspetivar o futuro e lidar com as alterações frequentes das orientações das autoridades de saúde, à medida que também evolui o número de casos e as dinâmicas da pandemia. Não é fácil lidar com a desinformação. A disseminação de informação falsa, contraditória e sem fundamento científico coloca-nos a todos em risco.” A incerteza em que vivemos é alimento para esta reação. A necessidade de “por pão na mesa” é legitima e preocupante.
Não me queria focar demasiado nas razões que nos levaram até onde estamos. Por agora. Nem devo. Não domino as questões epidemiológicas, jurídicas, económicas, nem sei o que será governar o Mundo numa situação destas. Deixo os alertas necessários para os especialistas nas matérias. Sem deixar de exigir responsabilidade e orientação. Estamos numa situação sensível e as palavras são poderosas. Para além disso, “cada pessoa é afetada pela sua experiência pessoal, pelas suas emoções e pelas perceções que tem em relação à situação vivenciada e que podem estar relacionadas com vários aspetos, entre eles o estado de saúde (física e psicológica, diretamente ligado ou não à Covid-19); o suporte social que recebe de familiares, de amigos ou da comunidade, as restrições aplicadas à sua área de residência e os fatores socioeconómicos (como a perda de rendimentos, precariedade laboral ou habitacional”.
Não tenho duvidas de uma coisa. A situação atual (e futura) não é só um problema de saúde pública. É também um problema social. Uma questão socioeconómica grave. Muitas pessoas entraram em modo de sobrevivência e procuram alternativas fora da sua zona de conforto. Conforto, entenda-se aqui, perderam os seus empregos e o seu modo de subsistência.
Falemos, então, de empatia em tempos de Pandemia. Não é fácil sermos empáticos no meio do caos. Ou por isso mesmo, será essencial. Tentarmos, pelo menos.
Mais do que explorar o conceito, gostaria de partilhar um vídeo sobre a exposição “A Mile in my Shoes”, patente no Empathy Museum: “The Empathy Museum is a series of participatory art projects dedicated to helping us look at the world through other people’s eyes. With a focus on storytelling and dialogue, our travelling museum explores how empathy can not only transform our personal relationships, but also help tackle global challenges such as prejudice, conflict and inequality.” E alguns exemplos de quem já “caminhou nos sapatos dos outros”…
Poderemos sentir que muitos não são merecedores da nossa empatia. Queremos que andem descalços e sintam a rudeza da gravilha. É verdade. E é uma questão de escolha pessoal, algo subjetiva. Neste texto, abordo o tema da empatia versus egoísmo (Ego+ismo) ou egocentrismo (Egó+kentrós) das atitudes.
“Será preciso mais que uma vacina para nos salvar”, li algures. Salvar de quê? Para mim, do egoísmo. Do egocentrismo. E com isto não quero dizer que não falemos a nossa verdade. Não confundir egoísmo com amor-próprio e com a defesa da nossa palavra. Mas não precisamos desesperadamente de estar sempre certos nas nossas opiniões e previsões. Espantam-me os que têm tantas certezas… Se a evidência demonstrar o contrário, serei a primeira a dizer que errei. Serei a primeira a reconhecer que respeitei o confinamento que foi imposto (no meu Pais e fora dele), fiz os testes necessários de despiste, cumpri rigorosamente o uso de máscara e o lavar as mãos permanentemente. Serei a primeira a dizer que vamos lá concertar isto. Por agora, confino-me a uma evidência: em caso de dúvida, salvar vidas. Em caso de dúvida, respeito pelos profissionais de saúde que estão na linha da frente. Com responsabilidade nas palavras ditas.
Imagem: Empathy Museum Facebook