
As questões feministas, a violência doméstica, a “guarda partilhada e os direitos das crianças vitimas diretas ou indiretas de violência doméstica” são um tema para mim sagrado pelos quais luto com todas as armas ao meu alcance.
Li neste “blog” as interrogações sobre a guarda partilhada as quais deixaram-me inquieta.
Confesso que tenho andado, desde então, à volta do assunto para tentar perceber o por quê da guerrilha a esta função da mulher: o direito de cuidar.
Não me sai da frente a comparação entre uma vaca que corre atrás da sua cria, roubada, que ainda amamenta e uma mulher a quem impedem de ser mãe de pleno direito obrigando-a a separar-se da sua cria dependente do seu corpo para sobreviver seja por via do divórcio seja por ter que ir trabalhar. Veja-se a poderosa intervenção de Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) quando compara o tempo de acompanhamento das cadelas às suas crias com a das humanas e o poder dos mercados.
Ao emprego feminino não está sempre subjacente a necessidade básica de sobrevivência pelo que ao ser criada essa necessidade de a mulher ter um emprego remunerado, fora de casa, como símbolo da libertação mais não foi do que uma forma de fazer das mulheres escravas retirando-lhes um direito natural para lhes ser “exigida” ai a sua participação paritária.
Devido a essa sua possibilidade emancipatória na vida da república muitas mulheres viram-se, então, na contingência de adiar/abdicar de ser mães a tempo inteiro ou quando acumularam, entregando a missão de cuidadoras a terceiros, são por demais conhecidas o seu cansaço extremo e os comportamentos disfuncionais nas crianças.
No caso de as mulheres terem que trabalhar por questões de sobrevivência será que se fosse assegurada, às famílias, uma capitalização, tipo ordenado mínimo, a quem ficasse em casa com os filhos quantos homens aceitariam fazê-lo? Quantas mulheres aceitariam?
Há uma premissa, na nossa sociedade, que me morde as orelhas há anos: todos temos que ser produtores de alguma coisa? Está o ser humano pré-programado para isso ou será um dos construtos para a maioria das pessoas serem dominadas por uma minoria? Patriarcado? Religiosa? Financeira? Cor? Outra?
Seja qual for a roupa que vestir está nos genes haver dominantes e dominados? É biológico? Cultural? Como se determina quem é dominante e quem é dominado?
Há várias formas dessa dominação se produzir, alicerçar, manter.
Irei, nos próximos tempos, apenas elencar as que me forem surgindo assim tipo chispas que saltam da fricção de duas pedras dando origem a um fogo para numa fase posterior desenvolver cada um destes itens e outros que entretanto forem surgindo.
Não sei se todos temos de produzir, mas vimos aqui fazer qualquer coisa, a questão fundamental é termos opções e podermos segui-las. Acho que é por isso que luto, seja no que diz respeito às questões de género, seja quanto às desigualdades em geral.
A questões põe-se exatamente ai, nas opções, no respeito por elas e quem não seguir a manada não tem que ter o dedo apontado e ser considerada improdutiva para a sociedade. Lá mais para a frente falarei, na aberração que é a de quem não quiser/puder ter filhos ou amamentar, entre muitas outras situações, ser considerada como incompleta que mais não é uma forma muito subliminar de nos fazerem sentir como improdutivas para a sociedade. É a lógica capitalista ou de mercado aplicada a um direito natural das mulheres.
Obrigada, Célia, pelo teu comentário 🙂
Gostei. Intenso. Opinioso como não poderia deixar de ser. Um bom primeiro tiro. Esperarei por mais desta saltimbanca escritora.
Araújo, meu caro amigo e colega no ativo, obrigada por teres vindo. Espero satisfazer a tua curiosidade e deixar por escrito algumas das conversas que fomos tendo ao longo destes anos. Hoje, já adiantei mais um bocado.
Obrigado, por teres vindo 🙂