Há pessoas com carisma. O mesmo para locais. E lojas também. Falámos com Lina Vaz, a dona e a alma das lojas Mercadores de Memóriasm há dias na loja de Azeitão. Ao lado da Quinta da Bacalhôa, com a fábrica de azulejos de Azeitão em frente, num local com uma frente clássica e bem portuguesa de um amarelo alegre com grades de ferro nas janelas.
O exterior não nos prepara para o interior. Uma loja grande e espaçosa, com muita luz natural, um mezzanine gigante, a madeira da estrutura do teto em diálogo feliz com a madeira das peças que povoam o interior.
A Mercadores de Memórias não ficaria mal descrita como uma viagem à Ásia. De facto, a maioria das peças, grandes e pequenas, são importadas da Ásia. Corrijo: uma viagem ao melhor da Ásia. Porque o que lá vemos são jóias de prata pura da Indonésia, móveis de madeiras nobres – como a teka – da Índia, da Indonésia e da Birmânia, peças decorativas de madeira da Tailândia, roupas de linho e sedas coloridas da Índia, incensos de odores afrodisíacos japoneses, tapetes e texteis coloridos, loiças artesanais no fio da navalha entre o decorativo e o utilitário, espelhos vindos das mil e uma noites. Peças enormes e de impacto que fazem uma casa, ao lado de objetos que são perfeitos para presentes originais e bonitos.

O que se encontra na Mercadores de Memórias são peças especiais. Não são sequer as peças que se encontram nas feiras internacionais. O design é apurado, numa feliz mistura entre o asiático e o contemporâneo. Uma espécie de fusão.
Não espanta, porque o processo de criação das peças também é já um trabalho conjunto entre oriente e ocidente. Lina Vaz vai diretamente às empresas, sobretudo na Índia e na Tailândia, às vezes debaixo de ‘um calor de cinquenta graus’ e as peças são o resultado da ideia da compradora portuguesa aplicada à produção e aos métodos tradicionais e artesanais asiáticos. Lina conta ‘que é um trabalho de afetividade. Já conhecemos os trabalhadores das empresas e temos afetividade por eles. E têm imensa arte.’ Conhecedora da realidade destes países, também constata: ‘é importante dar trabalho a estas pessoas, que se nós não lhe dermos esse trabalho é complicado sobreviverem.’
As peças que resultam deste trabalho afetivo entre Lina Vaz e os indianos, e outros, de ‘olhar doce’ não ficam só por Portugal. Conta que uma das empresas replicou uma peça que criaram em conjunto e vendeu dez mil para os Estados Unidos. Reconhece que tem um ‘olho clínico para as peças diferentes e, muitas vezes, chagar cá e transformá-las’.
Por uma peça em casa de um cliente é a finalização de um trabalho que começa na visita às empresas. ‘É muito interessante vermos aquele lugar daquela casa, as voltas que a peça deu, e terminou ali, está ótima, é a alma do lugar. Gosto que as minha peças se tornem na alma das casas. E é muito frequente isso acontecer. É mais doloroso, tenho de esperar pelo cliente certo, pela boa vontade certa.’ De resto, foi uma atividade que se foi aprofundando com o tempo de Mercadores de Memórias: uma consultoria de decoração aos clientes, começando pelas cores a usar até aos móveis, tecidos e peças decorativas, que agora oferece aos clientes.
É um trabalho muito personalizado. ‘O meu negócio é muito pequeno’ – diz Lina com excessiva modéstia – ‘e gosto muito desta fase, gosto muito de trabalhar com o cliente diretamente’.
A Mercadores de Memórias foi iniciada há treze anos, apesar de Lina Vaz ter já antes experiência com a Ásia. Foi criada juntamente com o marido, que é carpinteiro de interiores, e que faz também móveis de origem e dá apoio à empresa na transformação das peças e na manutenção das peças.
E o que a faz escolher uma peça? ‘É como se ela conversasse comigo. Pode estar atrás de um molho de coisas, que eu descubro-a. É ver o potencial das peças, ter uma alma, o poder transformador que a peça virá a ter num ambiente, o calor que transmite.’
‘Os nossos fornecedores são fantásticos. Trabalhamos por exemplo na Tailândia com um atelier que tem gente francamente boa.’ Não são empresas (pequenas) citadinas. É no interior profundo, às vezes no meio dos arrozais, que estes empresários-artistas decidem estabelecer os seus ateliers e pequenas fábricas. Reconhece que lhe custa pensar que com o problema do coronavírus vai ficar muito tempo sem os visitar. Não cancelou nenhuma encomenda – mas sabe que outros clientes cancelaram, e preocupa-se com a saúde económica dos seus fornecedores.
Nota-se em Lina Vaz uma preocupação holística, quiçá muito influenciada pela mundividência asiática. Não passou sem sugerir que a Capital Mag faça umas peças sobre os artesão que trabalham na zona de Azeitão, todos eles afetados pelo encerramento que a covid impôs e pela diminuição dos turistas que vão até Azeitão e até Belém, em Lisboa. O sucesso dos outros que estão perto de nós potencia o nosso sucesso – como bem sabe a dona da Mercadores de Memórias e como bem sabem os bons empreendedores.
A loja de Azeitão da Mercadores de Memórias, em Vila Fresca de Azeitão, é o centro do negócio. Mas existe uma outra loja, mais pequena, no Centro Cultural de Belém. Poucos móveis – pela falta de espaço -, mas muitos têxteis para a casa, muitos acessórios para senhoras, jóias de prata e bijuterias, incensos, roupas de linho e seda, pequenos objetos decorativos ideais para presentes.
As duas lojas são espaços criativos, originais, boa onda, coloridos, que nos trazem outros países, outras culturas, outras temperaturas. Valem para procurar o presente especial para alguém querido, para descobrir o móvel que fica arrebatadamente bem lá em casa, mas também como ponto de passagem de um bom passeio. Na loja do CCB a componente lúdica é evidente. Na loja de Azeitão, também é um bom ingrediente num passeio de fim de semana à Quinta da Bacalhôa, aos Azulejos de Azeitão e aos Mercadores de Memórias. Com inúmeros bons restaurantes na zona para um almoço ou jantar a rematar o passeio. No futuro, haverá ao cimo da rua mais um museu com parte da coleção de arte de Joe Berardo, o que completará o menu turístico de Azeitão.
É um bom lugar para comprar boas memórias. Memórias das partes da Ásia onde as peças nasceram e memórias das visitas sempre prazenteiras às lojas.




AZEITÃO
Rua dos Trabalhadores da Empresa Setubalense, 6 (Lateral da Qta. da Bacalhôa)
2945-495 Vila Fresca de Azeitão
Tel: 212 180 597
azeitão@mercadoresdememorias.com
Aberto todos os dias das 10:00h às 19:00h
BELÉM
Centro Cultural de Belém, Loja 4
Praça do Império
1449-003 Lisboa
Tel: 213 017 049
belém@mercadoresdememorias.com
Aberto todos os dias das 10:00h às 20:00