Bonfim, Campanhã, as Fontaínhas, o Porto Oriental… São bairros que se sobrepõem, são diferentes freguesias, são lugares, zonas, pontos de encontro. Este é um Porto que começa para lá das antigas muralhas, que vai da Batalha à principal estação ferroviária da Cidade.
É o Porto decadente mas charmoso, antigo mas também avant garde, burguês e proletário, de antigas fábricas e ilhas operárias, mas também de jardins oitocentistas, igrejas, teatros, casas de boas famílias, mas também casas de má fama, edifícios históricos, património, bares, restaurantes de tradição e espaços de inovação gastronómica, pólos de desenvolvimento e centros de transporte. Esta é afinal a zona da cidade onde se encontram três pontes: Dona Maria, Infante e São João, todas elas curiosamente dentro dos limites da mais pequena das freguesias do Porto, o Bonfim.

Convivem neste Porto uma população envelhecida, os tradicionais moradores das ilhas, os alojamentos locais, uma velha burguesia herdeira dos que aqui se radicaram em meados do século XIX, a população Erasmus que se renova a cada novo semestre e os estudantes de Belas Artes, que há décadas emprestam uma aura de boémia, que irradia da Faculdade pelas artérias circundantes da Avenida Rodrigues de Freitas.
Nos últimos anos esta parte da cidade tem sofrido uma revolução silenciosa, as fachadas foram-se renovando, os novos restaurantes foram nascendo, ao mesmo tempo que se conservam velhos templos da gastronomia tripeira como A Cozinha do Manel, ou o Aleixo, abriram novas lojas, associações culturais… a arte, o desenho, a fotografia, o design e a arquitetura ganharam novos palcos.

Quem passeia por esta zona da cidade não pode deixar de reparar na profusão de ruas e avenidas com nomes de Duques, Condes, Barões, a que se somam os heróis da Revolução de 1820 e do liberalismo. De Gomes Freire ao Duque de Saldanha, passear pelo Porto Oriental é lembrar o Cerco do Porto, e o papel que a cidade teve na vitória do liberalismo sobre o absolutismo.
Essa associação é natural, tendo a freguesia do Bonfim nascido em 1841, as novas artérias foram sendo baptizadas com os heróis do novo regime.

Ao lado do Porto das casas burguesas, em ruas ladeadas com árvores, num novo traçado oitocentista, nascia uma cidade industrial, em redor do eixo do Campo 24 de Agosto, e surgiam também as vilas, com destaque para a Rua de São Vítor, que acolhiam os trabalhadores que iam chegando à cidade na nova estação ferroviária que nascia em Campanhã (1875).


Entre Campanhã e a Batalha foram surgindo ao longos dos tempos diversos equipamentos públicos de onde se destacam obviamente o Teatro Nacional de São João, o cinema Batalha (em recuperação), a Biblioteca Municipal, a Faculdade de Belas Artes, o Museu Militar ou o Cemitério do Prado do Repouso, o primeiro cemitério municipal (1839) e que é considerado um verdadeiro museu ao ar livre, com belíssima estatuária e arquitetura fúnebre.

Passear por esta zona implica também conhecer os seus jardins e parques, com destaque para o Parque do Barão de Nova Sintra, onde poderá descobrir algumas das antigas fontes que davam de beber à cidade, além da belíssima Senhora das Águas.
Merecem também visita os jardins da Faculdade de Belas Artes, o icónico e clássico Jardim de São Lázaro, o Jardim Francisco Sá Carneiro, o Jardim do Campo 24 de Agosto ou o Jardim Paulo Vallada. Destaque ainda para os miradouros das Fontaínhas e do Colégio dos Órfãos com belas vistas sobre o rio Douro, ou o miradouro da Rua do Monte Tadeu, o ponto mais alto da cidade, com vistas privilegiadas sobre o Porto e os seus arredores.

A escolha gastronómica é variada, desde as sandes de pernil da Casa Guedes, às recriações nipónicas do Shiko, a Tasca Japonesa, passando pela cozinha de autor do Pedro Limão, ou os clássicos da Cozinha do Manel e os filetes de polvo da Casa Aleixo.
Para os amantes do café há o Âme, e o Combi, para beber uns copos o Terraplana ou a Tendinha dos Poveiros, para um snack o Duas de Letra, onde no dia certo ainda pode discutir filosofia, para boas cervejas tem ainda a Letraria.


Mas a zona tem ainda lugar para as mais variadas ofertas como o Dona Gertrudes, onde, entre um petisco e um copo de vinho, parece que somos transportados para uma outra era, ou então O Porto dos Gatos, onde pode tomar o seu café ou chá na companhia dos felinos, ou ainda o Praça da Alegria, um clube popular onde pode beber uns finos, ou jogar matrecos, ou participar numa festa na companhia de estudantes de Belas Artes.
Ofertas e motivos não faltam para conhecer o lado oriental da cidade, e fugir um pouco das ruas centrais, já tão saturadas de turistas.






Fotografias de Maria João Marques.