Piccolino é um anão da corte italiana, em plena época da Renascença, e um perfeito do mal. O ar aparentemente inofensivo e débil, tão bem caracterizado por Pär Lagerkvist, esconde o seu lado B: escuro e perverso.
Tantas vezes objecto de brincadeira, até de crianças, o anão vai espiando e tirando notas de todos os adultos e seus comportamentos, tomando parte das conspirações e traições à sua volta. Fiel escudeiro do seu príncipe, muitas vezes é usado para obter informações e segredos. Mestre na arte da camuflagem, o pequeno homem vai alimentando o mal que cresce nele, tornando-se um verdadeiro diabo.
Piccolino vai reflectindo sempre sobre o seu tempo – de fome, guerra e peste. Considera-se o portador de todo o mal dos homens, sendo julgador dos seus pecados e fraquezas. Será o anão uma versão pequena e concentrada da natureza e erros que vivem dentro das pessoas de estatura normal?
É fácil encontrar metáforas nesta notável obra do Nobel sueco, de 1951. Não é à toa que é, ainda hoje, o seu livro mais traduzido e estudado, pela eloquência e humor com que assistimos à degradação dos comportamentos da corte e às pequenas diabruras deste ser abandonado, que vive como bobo, na miséria que o consome. No fim, é ele próprio peça-chave de assassínios e de enormes tramas.
A edição é da Antígona e a tradução de João Pedro de Andrade.