Xana Campos | Cities of the World, de Georg Braun e Franz Hogenberg

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Encontrar este livro foi um privilégio. Não é todos os dias que nos decidimos debater com tamanho volume e cuidada reflexão e edição, para fruir destas cartografias urbanas de cidades que revolucionaram a visão do mundo, nas suas enormes duplas páginas. Uma delícia quase infantil, que espero partilhar, de mergulhos nas suas praças e vielas à época, como pop-ups, resgatando o tempo, que já ninguém tem.

Deixo-me levar por alguém com boa orientação pelas cidades que visito. Estudo-as antes, há um plano ambicioso para o tempo disponível. Gosto de as levar na cabeça sem olhar para um mapa durante os passeios. Quem está comigo que me leve pelas ruas, eu reconheço o que me rodeia, fazemos paragens e refeições recomendadas e genuínas, estudo os gestos, a musicalidade, o ritmo, sou intérprete, na busca de reconhecer uma referência literária ou cinematográfica.

Quero fundir-me, aprender como vivem, como viviam, conhecer artistas de grande nível, trocar ideias e experiências, perseguir ávida, a Arquitectura, a História, e tento uma aproximação à língua, nem que sejam algumas palavras e saudações, mesmo que quase tudo se perca na tradução. Comunicar, intercâmbios e mobilidade são o adn da Cidade, a logística de pessoas e bens, materiais e imateriais, da Cultura erudita, da popular, e das outras todas. Uma centralidade consolidada e densificada ao longo de séculos, milénios.

Cada cidade é única no modo e tempo que a geografia humana do seu povo levou a estabelecer-se numa geografia física, ora facilitadora como o leito ou foz de um rio, ou a proteger-se numa defensiva fortificação tecnológica militar, num sistema de pontos elevados de observação, ou numa combinação de ambas.

As estratégias de progressão da Cidade são a história da sua própria civilização, e sabemos delas tanto quanto nos deixaram os despojos da civilização anterior, pela seguinte, na ânsia de deixar a sua marca e branquear a História, ora a ferro e pedra, ora em registos gráficos escritos e desenhados, tão abundantes quanto a relevância das suas bibliotecas.

A História da Arquitectura e da Arte e os princípios do urbanismo dos centros deste período, 1572-1617, refletem o grau de sofisticação da governança da sociedade, uma Renascença da multidisciplinaridade que concorre para o modo de planear e de representar a Cidade e o Território adjacente com os seus truques de escala quase caricatos desta cartografia inclusa e urbana.

São 363 cidades europeias, asiáticas, africanas e latino-americanas, que revolucionaram o mundo na viragem para o séc. XVII do Modernismo, e Lisboa e Coimbra não poderiam faltar, como centros de produção cultural incontornáveis.

Tem um preâmbulo justo do arquitecto Rem Koolhas, virtuoso e legítimo pensador fora da caixa, que se fez respeitar em todo o mundo, com comissões de escala de cidade, incluindo algumas destas aqui reeditadas. Bons mergulhos.

 

Cities of the World, Georg Braun e Franz Hogenberg. Taschen, 2017. 49,65€

 

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Xana Campos, arquitecta, doutoranda em Arquitectura.

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