Sou uma pessoa que gosta de cor (e de cores). Diria mesmo mais: não consigo viver sem cores. Os meus filhos costumam dizer que temos em casa (e no meu roupeiro) todas as cores do Pantone. As paredes estão longe de serem brancas (ou beiges, grrrrr), os cortinados são coloridos, as mais variadas bugigangas que há por uma casa também.
Para a roupa, então, gosto muito de cores fortes e vivas. Azuis turquesa, laranjas, cor de rosa histérico (nunca aquela coisa intolerável do cor de rosa bebé ou pastel), magenta, verde esmeralda (e também a cor que em inglês se chama deep jade), azuis elétricos (jamais – pânico e pavor – azul escuro ou azul marinho, a cor mais entediante do mundo), roxos se bonitos e vibrantes (os roxos mortiços também não me atraem), encarnado (claro), beringelas, tons petróleo – penso que já têm uma ideia. Pretos, cinzentos e castanhos só se aceitam em sapatos. (Não, credo, nas carteiras não. As carteiras também se querem coloridas.)
Uso cor porque gosto de cores – da estética e do shot de energia que são as cores vivas – mas em boa verdade, sendo morena, as cores fortes ficam-me bem. A ausência de cor e as cores neutras e pálidas e pastel não têm qualquer piada com a minha pele e cabelo. Faço uso daquela frase da protagonista de Legally Blonde que, descrevendo outra rapariga, dizia perplexa que era o tipo de mulher que usava preto quando ninguém tinha morrido. Partilho a perplexidade.
E em Portugal o que não faltam são morenas à espera de ganharem mais vivacidade com uns salpicos de cor forte. Porém, inexplicavelmente, as mulheres portuguesas usam muito poucas cores vivas. Não sei se é a falta de arrojo nacional, o fraco apetite por arriscar que também aqui se nota, a desconfiança para com a excentricidade e a originalidade, ou o medo de se destacar diferenciadamente da massa uniforme e protetora. Ou a pouca literacia estética, a acompanhar a escassa escolaridade. Ou, simplesmente, a falta de oferta.
Sei que por cá se vende e se compra pouca cor com impacto. E, quando vendem, tendencialmente é cara ou só para adolescentes (e mesmo assim).
Uma das peripécias repetidas que me sucedem em lojas de roupa tem a ver com a vontade das vendedoras me impingirem roupa sem cor ou de cor neutra. Eu chego, pego nas peças mais berrantes que há pela loja, experimento, se gosto e é pertinente (incluino na tesouraria) comprar, levo. E, durante todo este processo, levo com solícitas senhoras que, ao me verem pegar numa camisola de lã azul turquesa me garantem que há igual em cinzento muito bonito, percebendo que estou a experimentar a túnica laranja inquirem se não prefiro a azul escura e, estou já eu a pagar o vestido lilás com bolas verdes, se oferecem para me ir buscar o amarelo deslavado.
Isto nas lojas onde os departamentos de compras são caridosos e encomendam (provavelmente enganados ou distraídos) roupas de cor. O normal, que me aconteceu vezes sem conta, é ver uma qualquer marca de roupa na internet ou nas lojas noutros países e regalar-me com as cores vibrantes e alegres da roupa que por lá mostram. Mais tarde vou à mesma loja cá em Portugal e só encontro as peças em preto e branco, cores pastel, cores neutras, cores escuras. Tudo muito boring. As marcas de que gosto – e geralmente gosto de marcas de roupa que usem e abusem de cores vivas – cá transfiguram-se em depositórios de roupas sensaboronas em que não consigo comprar nada.
Queridas conterrâneas: fazem mal. A cor é um poderoso meio de comunicar e estão a desperdiçá-lo. De resto é uma arma que as mulheres high profile com frequência utilizam. Margaret Thatcher preferia usar azuis garridos para se diferenciar dos homens de fato, todos iguais, com que trabalhava. A Rainha Isabel II veste-se sempre com roupas coloridas. Angela Merkel (longe de ser um ícone de moda) põe frequentemente os seus casacos fechados de cores chamativas. Usar cor, numa mulher, é um statement para chamar a atenção (ou para informar que nos devem dar atenção). Sendo o dress code profissional (e não só) dos homens tão mais limitado, não entendo como as mulheres prescindem de usar este instrumento tão fácil (roupa colorida) para imediatamente se diferenciarem.
Há mais benefícios em usar cores. Por um lado as cores são associadas a vários simbolismos: amarelo, otimismo; encarnado, excitação; roxo, sofisticação; preto, tristeza; cinzento, tranquilidade; e por aí fora.
Por outro lado as cores têm impacto na nossa disposição e, até, na produtividade. Estes efeitos estão mais estudados para a arquitetura e decoração de interiores, mas não há razão para não funcionarem também com as peças que vestimos. O verde potencia a capacidade de realizar tarefas cognitivamente mais exigentes. O encarnado é a cor que mais atrai a atenção, ajuda desempenhos desportivos e exacerba a atratividade de quem a usa. O laranja é uma cor que impele para a ação. O cor de rosa reduz a agressividade (é uma cor adequada para as prisões, por exemplo). As cores quentes induzem mais um estado de vigilância ativa que as cores frias. O amarelo leva as pessoas a perderem o temperamento mais frequentemente.
As cores fazem-nos produzir determinados químicos cerebrais, alteram o nosso batimento cardíaco, provocam sensação de mais calor ou mais frio que a temperatura efetiva. Um valente etc. Podemos usá-las para influenciar a disposição dos que estão à nossa volta, para nos diferenciarmos e para melhorarmos, em precisando, a nossa disposição ou, até, concentração.
Só vantagens. Da próxima vez que for às compras, já sabe, procure a secção da loja com as cores mais chamativas.