A neurobiologia do sexismo

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Imagem de Isabel Santiago

É a minha experiência com homens sexistas. Inserem-se sempre em alguma das seguintes categorias: homens feios com dificuldade em conseguirem mulheres (ou sequer a admiração das mulheres); homens solitários com dificuldades relacionais; homens sem confiança no seu status social; homens divorciados por vontade das mulheres; homens pouco escolarizados; homens com dificuldades profissionais. Os homens hostis ao feminismo e às bandeiras do feminismo são sempre homens 1) ressentidos pela liberdade sexual e profissional das mulheres (que nos dá, por sermos financeiramente independentes, a possibilidade de os rejeitarmos e não termos de tolerar relações e casamentos por incapacidade social ou económica); ou homens 2) em pânico por terem nas suas profissões a concorrência das mulheres em igualdade de circunstâncias  e oportunidades – e não gostam. Quanto menos concorrência tiverem, melhor para eles, é o que pensam. E quanto menos oportunidades tiverem as mulheres, menos sucesso económico obtêm e mais dependentes ficam financeiramente dos seus parceiros – e voltamos ao ponto 1.

O sexismo nunca é um idílico respeito pelas mulheres, pelas suas escolhas biologicamente determinadas (é a patranha que nos contam – afinal o mito dos cérebros diferentes já caiu), um instinto de proteção benevolente. Pelo contrário: os homens sexistas são violentos (fisicamente, verbalmente, no abuso das redes sociais) contra as mulheres que não encaixam nos papéis onde eles as querem constranger; não há nada de cavalheirismo e de boas maneiras nestas pessoas, só boçalidade. Por outro lado, uma característica que se vê nestes homens é a cobardia: são incapazes de ir contra a sua matilha para defenderem algo que a matilha ataca. Não há qualquer heroísmo ou coragem – só histeria, berraria, sempre todos protegidos pelo grupo, atacando apenas os que são, ou julgam (também pelo sexo), mais fracos.

O sexismo é sempre sintoma de fragilidade: relacional, física, social, profissional. Não é comum que um homem razoavelmente atraente, bem na vida, profissão em modo cruzeiro, socialmente satisfeito, urbano e escolarizado seja militantemente machista.

Ora: a pesquisa científica comprova as observações empíricas (as minhas, pelo menos). Aparentemente sexismo também tem a ver com a (pouca) inteligência e com a construção cerebral.

Por um lado, as pessoas com QI mais baixo tendem a ser mais preconceituosas, no que a todos os preconceitos diz respeito. Também é fácil de entender. Quem não consegue abarcar a complexidade do mundo, prefere que o mundo seja regido por poucas linhas, com papéis bem definidos e hierarquizados, sem alterações que obriguem a difíceis novas acomodações, simples, pouco complexo, a preto e branco. As pessoas com QI mais baixo são mais racistas, mais sexistas, mais homofóbicas. (Um outro estudo confirma esta ligação entre baixo QI e homofobia.)

Por outro lado, os cérebros das pessoas com tendência para o sexismo são diferentes. Maiores nas zonas que gerem o medo, raiva e dor, e menores na amígdala direita, que também gere emoções e o medo. Quem tem visões do mundo mais sexistas, tem graduações mais altas na raiva, propensão para a depressão e competitividade. Outro estudo também revela que menor volume na amígdala se correlaciona com stress, ansiedade e depressão.

São uns coitados, na verdade, os sexistas. E merecem pena, porque são de facto pessoas com desvantagens, com ansiedades e stresses sobre si próprios, a sua vida e a sua relação com o mundo. E evidentemente a maioria não se considera sexista – e às tantas ficamos sem saber se esta auto avaliação que fazem se deve a hipocrisia aguda ou incapacidade cognitiva para perceberem os próprios traços de personalidade. Digo hipocrisia? Sim, porque a esmagadora maioria deles se preocupa muito com o sexismo – e nunca lhes escapa ao olho – quando este vem de islâmicos ou outras culturas ou de imigrantes. Aí, aqueles prestimosos e sensíveis corações sofrem ardentemente com as agruras a que as mulheres muçulmanas são sujeitas. Já o sexismo dos homens ocidentais É INVENÇÃO DAS FEMINAZIS COM FALTA DE HOMEM (isto dito com muita berraria e histeria).

Depois há aqueles que se reclamam nos antípodas do machismo, têm imenso respeito pelas capacidades das mulheres, acontece serem simplesmente seres profundamente crentes no mérito (e nas diferenças biológicas entre homens e mulheres, que nos relegam, claro, para os tachos, não para a política ou para o topo das empresas). Quotas? MAS ESTAS GAJAS MALFODIDAS ACHAM QUE PODEM PASSAR À FRENTE DOS HOMENS; QUE SÃO MUITO MAIS COMPETENTES, SÓ POR TEREM MAMAS? (Não se esqueçam: histeria e berraria.) Acusações de violência sexual em.cada.caso.sem.falhar? A GAJA ESTAVA A PEDIR. AGORA VAMOS ACREDITAR NAS PALAVRAS DAS MULHERES? QUEM A MANDOU USAR MINISSAIA? QUEM A MANDOU SAIR À NOITE EM VEZ DE ESTAR NUM CONVENTO OU A BORDAR EM CASA? (Outra vez, em crescendo: paroxismo de histeria.) E por aí adiante.

Bom, apesar de comprovadamente limitados e merecedores de pena, os machistas não devem ter complacência na oposição sem quartel que lhes fazemos. São pessoas que, sem qualquer hesitação, usam métodos canalhas contra as mulheres, sobretudo contra as feministas, não têm limites éticos, são violentos, são boçais e, em boa verdade, são muito sagazes na hora de nos tentarem calar e retirar direitos.

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Mãe de dois rapazes e feminista (das duas características conclui o leitor inteligente que não quer exterminar os homens da face da Terra). Licenciou-se em Economia ao engano, é empresária, mas depois encarreirou para os Estudos Orientais, com pendor para a China. É cronista do Público e escreve ocasionalmente ensaios sobre livros e leituras na Ler. Já foi blogger e cronista do Observador e Diário Económico. Considera Lisboa (onde nasceu e vive) a cidade mais bonita do mundo, mas alimenta devaneios com Londres e Hong Kong.

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