Na capital do Brexit

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Londres: old and new.

Londres votou para ficar na União Europeia em 2016. Estive lá por umas semanas (na última o thirteen year old foi ter comigo, pelo que não me livrei de um passeio turístico à Torre de Londres), vi muitos sem abrigo e muitas pessoas a pedir (não sei se porque nas duas últimas vezes, no ano passado, fui no inverno e as pessoas estão em instituições), os empregos mais indiferenciados estão praticamente todos ocupados, como há muito, por imigrantes (como é que Londres os substituirá no pós brexit?), não existe qualquer espírito alegre e animação pela nova aventura de saída da União Europeia. O oposto: nunca reparei em tanta irritação à flor da pele, nem em tamanha displicência no cuidado de um bom serviço.

O mundo artístico e académico (que foi onde estive embrenhada), odeia a ideia do brexit. A perspetiva de se colocarem entraves (mesmo que alfandegários e burocráticos) à circulação de ideias, conhecimento, tendências artísticas – horroriza-os. Bem como perderem os europeus continentais que por lá ocupam lugares tremendamente diferenciados e especializados. Boris Johnson é uma figura do demo, cujo mero conceito de existência arrepia as almas mais sensíveis. E as menos também.

Mas se não está exuberante, Londres continua excêntrica, cosmopolita, uma capital cultural, original, criativa. A boémia mistura-se com a vontade de preservar especificidades culturais (sem sentido xenófobo por aqui, mais a arquitetura, as organizações culturais, hábitos que vão desde o chá à cerveja com os colegas sexta feira à tarde, e por aí em diante). A irreverência convive com a monumentalidade. A contemporaneidade funde-se com a história.

E depois temos resistências subliminares. Numa das últimas vezes que estive em Londres, já pós referendo, encontrei na Tate Britain uma exposição dos impressionistas franceses que tinham viajado para e pintado Londres. Desta vez, a mesma Tate exibia Van Gogh, organizando a exposição à volta das influências que a vida londrina e os artistas britânicos tiveram na obra de van Gogh e, lateralmente, as influências de van Gogh na cena artística britânica. A mensagem é clara: o diálogo, a interação, as trocas, as influências bidirecionais são benéficas e profícuas.

(Não por acaso, uma das professoras, quando comentava isto mesmo com ela, contou-me que estava a dar consultoria aos chineses que tinham comprado a casa onde van Gogh viveu. Mais uma camada de globalização.)

No entanto, desde o referendo de 2016 que a política britânica está venenosa e infecta. Ainda bem que as coisas más têm sempre um fim.

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Protesto em Regent St

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Estátua de Millicent Garrett Fawcett em Parliament Square, lá colocada depois de uma campanha de Caroline Criado-Perez, que reparou que não existia nenhuma mulher na estatuária de Parliament Sq.
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Noivos numa sessão fotográfica em frente de Westminster Abbey.
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Westminster Station
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Pátio do V&A Museum
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Exposição de Natalia Goncharova na Tate Modern. É atualmente política da Tate Gallery adquirir tantas obras de artistas femininos e masculinos e equilibrar os sexos dos artistas nas exposições que fazem.
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Exposição de Vincent van Gogh na Tate Britain.

Southbank

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Tamisa

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Torre de Londres

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South Kensington

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Museu de História Natural

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Mãe de dois rapazes e feminista (das duas características conclui o leitor inteligente que não quer exterminar os homens da face da Terra). Licenciou-se em Economia ao engano, é empresária, mas depois encarreirou para os Estudos Orientais, com pendor para a China. É cronista do Público e escreve ocasionalmente ensaios sobre livros e leituras na Ler. Já foi blogger e cronista do Observador e Diário Económico. Considera Lisboa (onde nasceu e vive) a cidade mais bonita do mundo, mas alimenta devaneios com Londres e Hong Kong.

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