Um dos pedaços literários mais formidáveis que li. História curta e simples, de um funcionário público angustiado; e as suas doenças…
Viajamos até à Rússia dos Czares. Ivan leva uma vida razoável, é casado, embora não dê muito de si à mulher. Numa altura em que comemora a sua ascensão social, começam verdadeiramente os seus problemas de saúde.
Obsessivo com as suas doenças, tenta de tudo para travar o inevitável. Sofre pensamentos muito desgastantes, vive com o stress à flor da pele. E é incapaz de compreender que nada disso ajuda. Apenas acentua, cada vez mais, a inevitabilidade do destino.
Este é um livro introspectivo, das profundezas do pensamento humano. Através de Ivan Ilitch, Tolstoi questiona as limitações da nossa condição. A morte é retratada com todas as emoções que a atormentam. Viajamos às decisões do passado da personagem, nas suas tristezas e da vida que levou. O arrependimento, a angústia, o aproximar do fim.
Em poucas páginas damos por nós a pensar naquilo que fazemos, na dicotomia das duas realidades: vida e morte.
«(…) esta é realmente a história não da Morte de Ivan mas da Vida de Ivan. A morte física descrita na história é parte da Vida mortal, é apenas a última fase da mortalidade. De acordo com Tolstói, o homem mortal, o homem pessoal, o homem individual, o homem físico, vai pelo seu caminho físico para o caixote do lixo da natureza; de acordo com Tolstói, o homem espiritual regressa à região sem nuvens do amor divino universal, um lugar de felicidade neutra tão caro aos místicos orientais. A fórmula tolstoiana é: Ivan viveu uma vida má e visto que uma vida má é apenas a morte da vida, este viveu uma morte viva.»
Do Posfácio, por Vladimir Nabokov