Há sítios assim, que por serem perto e de viagem frequente acabam por se tornar locais que se entrelaçam com a nossa vida. A Madeira é um deles, para mim. A primeira vez que andei de avião foi para ir à Madeira de férias com os meus pais e o meu outro irmão que também ainda era menor. Regressei a Lisboa na noite de 24 de abril de 1984, a tempo de ver o fogo de artifício que marcava os dez anos do vinte e cinco de abril e a então namorada do meu irmão mais velho (até hoje cunhada), convenceu esta inocente criança que eram celebrações pela minha primeira viagem de avião.
Foi na Madeira a nossa viagem de finalistas do colégio, com noites loucas na discoteca Vespas, como é de rigor, e nessa viagem nasceu uma das minhas paixões de adolescência, com episódios enternecedores no topo do Hotel Carlton (proprietário de uma soberba vista para o Funchal). Foi para lá que viajei para celebrar o primeiro aniversário de casamento, foi para a Madeira que fui com as crianças nas primeiras férias de verão quando ficámos só três. Pelo meio houve outras viagens, idas para praia para o Porto Santo, escapadinhas de fim de semana.
É, adivinham bem, um sítio de que gosto. Tremendamente turístico, sim, mas afinal lá eu também sou turista e não tenho por hábito reclamar por que os outros adotam os hábitos que também tenho. E é muito pelo turismo (e não apenas pelo despesismo dos governos regionais) que se fez a relativa prosperidade da Madeira e se conseguiu fugir à pobreza da ultraperiferia europeia. O que, digam lá se não, é coisa de valor. É um tanto básico ficar encantada com os inúmeros túneis da Madeira, mas a verdade é que permitem que as populações se desloquem com facilidade e que muitas terriolas deixem de estar quase isoladas para se tornarem facilmente acessíveis. O Curral das Freiras (ou Nun´s Valley, como traduzem para inglês de modo que não conseguimos impedir pelo menos um sorriso) é um caso exemplar. Agora tem túnel, restaurantes, uma banca a vender bolo do caco com chouriço e até uma pequena rua de comércio cheia de lojas de souvenirs de gosto questionável. Em suma: os inícios da prosperidade.
Tem os vícios dos sítios turísticos, a Madeira, claro. Os preços (hotéis ou outro tipo de alojamento, restaurantes, cafés, artesanato, tudo o que se compre) são, em toda a ilha, ao nível de Lisboa ou para cima. E há as aldrabices que em Portugal não podiam faltar: lojas com produtos iguais com preços diferentes às dezenas de euros, preços que afinal são só indicativos se resmungarmos que é caro, vontade de regatear como se estivessem em Marrocos. Quem gostar dos bordados da Madeira (eu gosto muito, sobretudo o linho branco bordado também a branco com efeitos quanto mais simples melhor) deve ir às lojas das fábricas no centro do Funchal, que é onde os preços são menos astronómicos.
De resto a Madeira tem boa comida, clima apetecível, vistas e paisagens dramáticas. As paisagens naturais são mais apelativas que as paisagens edificadas, refira-se, apesar de alguns bons edifícios art deco que tem o Funchal (o mercado, vivendas de habitação, prédios onde funcionavam as empresas tradicionais, e mais uns tantos), do ar sintrense que oferece o Monte e de na Madeira constar o único projeto de Oscar Niemeyer em Portugal (o complexo do hotel Pestana Casino Park e do próprio Casino, que parece saído de Brasília).
Por outro lado, também encontramos com abundância falta de arte que restou dos anos oitenta. O restaurante O Lagar, por exemplo, no Estreito de Câmara de Lobos, tem um parque de estacionamento com uma vista invejável; já a sala de refeição tem vista para os prédios do lado (escondidos por cortinados de poliéster).
Tudo somado é um local bonito e aprazível, com ótimos passeios, que apetece. E não deixa de ser um patriótico ‘vá para fora cá dentro’.
Funchal





Cabo Girão
Curral das Freiras

Seixal (que também tem piscinas naturais).
Porto Moniz
Machico