Portugal tem a 2.a pior taxa de femicídios conjugais de toda a Europa. Em primeiro lugar está a Albânia, a um ponto de diferença do nosso país.
Entre 2004 e 2017 foram assassinadas pelos seus parceiros ou ex-parceiros 392 mulheres, segundo os dados da recolhidos pelo Observatório da UMAR. O que dá uma média de 28 vítimas de femicídio conjugal por ano.
Fig. 1 : Femícidios por relação da vítima com o autor do crime ao longo dos anos 2004 a 2017, página 5 do Relatório 2017 do Observatório de Mulheres Assassinadas (UMAR)
A ONU publicou recentemente um estudo completo sobre o femícidio e homicídio conjugal: Global Study on Homicides – Gender-related killing of women and girls. Nele encontramos dados para vários países:
Fig. 2: Taxas de femicídios e femicídios conjugais em países europeus seleccionados (2016), página 15 do estudo da ONU.
O gráfico revela que a taxa média de femicídios conjugais por cada 100’000 mulheres na Europa é de 0.3. A taxa portuguesa é de 0.6, o dobro da média. Temos o 2º pior número europeu, apenas ultrapassado pela Albânia que, com 0.7, está no topo dos piores da Europa no index de desenvolvimento humano.
O mais grave é que estes dados são até 2017. Sabemos que em 2018 mais mulheres morreram em Portugal, mas nada se compara ao mês mais sangrento para as mulheres de que há registo que foi janeiro de 2019, com 10 mulheres vítimas de femícidio conjugal.
O número do janeiro de 2019 coloca Portugal a competir com os piores países do mundo, bem longe da média europeia. Ficamos no pódio, em 3º lugar nos piores do mundo compilados neste estudo da ONU, com uma taxa de 2.4, depois do Suriname (4.3) e do Belize (2.7):
Fig. 3: Taxas de femicídios e femicídios conjugais em países seleccionados, da América Latina e Caraíbas (2016), página 16 do estudo da ONU.
Por todo o mundo, os homens continuam a ser a maioria das vítimas de homicídio. Mas quando focamos os homicídios familiares conjugais, as mulheres são um assustador 82% das vítimas:
Fig. 4: Percentagens, por sexo, de vítimas de homícidios totais, familiares e conjugais (2017), página 18 do estudo da ONU.
Em Portugal, essa percentagem é exactamente igual para os anos referidos (2004-2017): 82%. Mas em janeiro de 2019, foi de 90%. Deixemos assentar este número: 90% das mulheres assassinadas em Portugal este ano foram mortas pelos homens que dormem ou dormiam ao seu lado.
Os seus assassinos são os homens que, na maior parte dos casos, prometeram no altar amá-las e respeitá-las até a morte os separar. Porque eles acreditam que só a morte os deve poder separar, não as mulheres. Elas não têm o direito de dissolver o casamento, de acabar com as agressões, de procurar uma vida melhor, de ser independentes, de ser felizes. Não, só a morte tem esse direito. Como elas tentaram separar o que Deus uniu, a morte veio, pelas mãos dos seus próprios maridos, separá-las dos seus filhos e da vida.
E foram todos infelizes para sempre. Fim.