O preço da apatia

0
Imagem de Isabel Santiago

De um lado, polarização política e extremismo ideológico, do outro, apatia, neutralidade e indiferença: Bem-vindos a 2019!

As teorias de Francis Wolff, que até há pouco tempo ocupavam um lugar de análise histórica, parecem cada vez mais proféticas. A análise das causas e consequências do apolitismo e o perigo que este representa para a democracia, são o “bê-á-bá do que não fazer” do séc. XXI.

Se por um lado, a democracia nos trouxe a liberdade para alcançar os nossos objetivos sem depender, necessariamente, dos outros. Por outro, e exatamente por causa disso, gerou-se uma menor preocupação pelo grupo, um afastamento da causa pública. Este ‘individualismo’, grande conquista da democracia, poderá estar na origem do seu colapso.

Wolff explica a questão da seguinte forma: o desinteresse dos cidadãos abre espaço para o aparecimento de “políticos profissionais”. Governantes distantes do povo e das suas realidades, que não distinguem entre público e privado, políticos corruptos. Isentos de escrutínio, acabam por aprovar medidas contrárias aos interesses daqueles que representam, que, focados no seu próprio umbigo, nem se apercebem (até os afetar diretamente, o que inevitavelmente acontece). Em resposta, surgem partidos populistas e demagógicos a espalhar a ideia de que todos os governantes são corruptos e que é preciso fazer uma “limpeza”. E como é que esta limpeza é feita? Através de um governo autoritário, pois claro. Soa familiar? Devia.

Como disse A. Toynbee “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. Pois é, agora é fácil esconder-nos por detrás de uma necessidade hedonista de fugir ao negativismo, lengalengas de impotência, falta de conhecimento, ou falta de interesse – mas a apatia é um privilégio com os dias contados. Basta olhar para a História. Basta olhar à volta.

 

Este texto foi inicialmente publicado como sendo da autoria de Maria João Marques, em vez de Maria Correa Nunes, por lapso. Pedimos desculpa aos leitores e à autora.

Deixe um comentário. Acreditamos na responsabilização das opiniões. Existe moderação de comentários. Os comentários anónimos ou de identificação confusa não serão aprovados, bem como os que contenham insultos, desinformação, publicidade, contenham discurso de ódio, apelem à violência ou promovam ideologias de menorização de outrém.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.