De um lado, polarização política e extremismo ideológico, do outro, apatia, neutralidade e indiferença: Bem-vindos a 2019!
As teorias de Francis Wolff, que até há pouco tempo ocupavam um lugar de análise histórica, parecem cada vez mais proféticas. A análise das causas e consequências do apolitismo e o perigo que este representa para a democracia, são o “bê-á-bá do que não fazer” do séc. XXI.
Se por um lado, a democracia nos trouxe a liberdade para alcançar os nossos objetivos sem depender, necessariamente, dos outros. Por outro, e exatamente por causa disso, gerou-se uma menor preocupação pelo grupo, um afastamento da causa pública. Este ‘individualismo’, grande conquista da democracia, poderá estar na origem do seu colapso.
Wolff explica a questão da seguinte forma: o desinteresse dos cidadãos abre espaço para o aparecimento de “políticos profissionais”. Governantes distantes do povo e das suas realidades, que não distinguem entre público e privado, políticos corruptos. Isentos de escrutínio, acabam por aprovar medidas contrárias aos interesses daqueles que representam, que, focados no seu próprio umbigo, nem se apercebem (até os afetar diretamente, o que inevitavelmente acontece). Em resposta, surgem partidos populistas e demagógicos a espalhar a ideia de que todos os governantes são corruptos e que é preciso fazer uma “limpeza”. E como é que esta limpeza é feita? Através de um governo autoritário, pois claro. Soa familiar? Devia.
Como disse A. Toynbee “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. Pois é, agora é fácil esconder-nos por detrás de uma necessidade hedonista de fugir ao negativismo, lengalengas de impotência, falta de conhecimento, ou falta de interesse – mas a apatia é um privilégio com os dias contados. Basta olhar para a História. Basta olhar à volta.
Este texto foi inicialmente publicado como sendo da autoria de Maria João Marques, em vez de Maria Correa Nunes, por lapso. Pedimos desculpa aos leitores e à autora.