2019. Desejos, previsões, incertezas e inquietações.

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2018 foi um ano inquietante e com sinais pouco salubres. As perspetivas para 2019 são repletas de incertezas. Os autores da Capital Mag contam-nos o que esperam, desejam, temem e prevêem para o próximo ano.

Aline Gallasch-Hall de Beuvink

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Imagem de Isabel Santiago

2019 vai ser insuportável: em constante campanha eleitoral, a maior parte dos partidos vai vender a habitual “banha da cobra” – principalmente a Tríade Marxista- que continuará a afundar o país. Mesmo assim, o PS vai ganhar as Legislativas, pois a sua máquina de propaganda é imbatível, como provaram os anos socratistas em que, mesmo batendo no fundo, houve quem acreditasse neles. Desejo que a Direita se una e dê ao PS a provar do seu próprio remédio. Estarei atenta ao que se faz ao Património e à Cultura: sempre ouvi dizer que era uma “bandeira” da Esquerda, mas anda demasiado esfarrapada…

 

 

Isabel Santiago

MII44980Com o passar dos anos, aprendi a valorizar pequenas coisas, e a relativizar outras. Aprendi que a vida dá muitas voltas. Que nada é adquirido para sempre. Aprendi que podia descobrir amigos do peito a cada momento, que outros estiveram sempre lá, e, sem ressentimento, esquecer alguns que passaram pela minha vida. Aprendi que, por mais anos que passem, continuo a ser surpreendia com hostilidades de onde não esperava, e a comover-me com ternuras e afetos improváveis. Aprendi a desvalorizar umas e a valorizar as outras. Mas aprendi sobretudo que para tudo, em cada Novo Ano que começa ou em cada novo dia que nasce, em cada alegria e esperança, em cada desejo, todos os sonhos e viagens, todas as paixões, todos os projetos, ou cada tristeza e desilusão, para serem vividas e desfrutadas ou superadas e vencidas, precisamos de ter saúde. Muita, todos.

2018 foi o ano em que vi mais portugueses sem a assistência na doença de que precisavam e a que tinham direito. A que é devida e que foi prometida. E esse sofrimento não pode ser relativizado nem desvalorizado.

Para 2019 gostaria que o SNS chegasse a todos, eficiente, rápido, condigno. Não é uma pequena coisa, mas também não é pedir muito. Se for, a saúde é tudo o que mais podemos desejar.

 

Maria Almeida

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Imagem de Isabel Santiago

2019 vai ser um ano difícil.
A nível político, temos eleições à porta que não auguram nada de bom.
Os números são desesperantes, em várias matérias.
Mas como não sou especialista,
vamos lá só relembrar que Portugal está ligado às máquinas, comatoso, em morte cerebral.
Além disso,
temo que daqui a dez anos
a minha geração, bem a geração que me segue, terá milhões e milhões de vídeos e fotografias
e nada para mostrar.
Assim está Portugal e as minhas esperanças no futuro.
Continuarei a dedicar-me ao vinho, esse coadjuvante da felicidade.
Passarei a defender o Rosé e principalmente o Champagne, ou o espumante, vá, que são injustamente tratados no nosso país.
De repente tenho um plano para 2019: reunir os leitores mais interessados nestas coisas e fazer um evento vínico memorável.
Da minha parte, podem esperar diversidade e liberdade.

Sobretudo gostaria de ter esperança neste ano, mas parece-me bem difícil.
Desejo-vos um ano democrático e muito livre.

 

Maria Correa Nunes

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Depois da babel que foi 2018 prever o que 2019 aí traz, parece um exercício de semi-adivinhação. As linhas orientadoras do passado tornaram-se obsoletas. Tudo aquilo que antes era certo foi posto em causa – o projeto Europeu, a democracia, a convicção antifascista, o patriarcado (sim, vá, nem tudo é mau).

A triste realidade é que a palavra-chave de 2018 foi “individualismo” – conquista feliz da democracia mas, ao mesmo tempo, a sua principal ameaça. Este individualismo foi alimentado a tal ponto, que permitiu o crescimento de três movimentos opostos, que embora já existissem há muito, nunca tiveram a dimensão que agora vemos e que, inevitavelmente, irão modelar o que aí vem.

Se por um lado a sociedade individualista gerou um apolitismo nunca antes visto (se não me afeta diretamente, não me interessa), por outro assistimos ao (re)aparecimento de ideologias de extrema direita. Pior – à expansão dos valores fascistas não só na Europa, mas um pouco por todo o mundo. No entanto, e como todos os extremos têm um polo oposto, a expansão fascista originou um movimento redentor de resposta, impulsionado sobretudo pelas gerações mais jovens; e é neste medir de forças que entramos em 2019. Ora sejam bem-vindos!

A nível Europeu, parece agora evidente que não haverá novo referendo do Brexit, mas a saída não será pacífica. A UE tudo fará para desencorajar os restantes Estados Membros a seguirem o exemplo do Reino Unido, pelo que não haverá lugar a grandes cedências.

Será interessante ver se o movimento lançado pelos “coletes amarelos” em França inspirou um novo sentido de ativismo político ou se apenas ardeu forte, para rapidamente se extinguir. Esperemos que não, mas, mais global e relevante que este último, são os outros dois movimentos que ganharam tração neste ano que passou: o movimento feminista e o ecologista. Ambos movimentos de rutura com o status quo e que têm vindo a ganhar força e relevância. No entanto, o futuro de ambos depende muito na não implantação da ideologia fascista.

Curioso notar que Portugal permanece um reduto à onda de extrema direita que parece varrer o resto da Europa. Se tal se deve à renovada confiança económica ou a verdadeira convicção ideológica, só o tempo o dirá. Infelizmente, a história já demonstrou, que basta pouco mais que uma nova crise financeira, para que líderes anteriormente ridicularizados subam à qualidade de salvadores da pátria (ou “mal menor”, como aconteceu no Brasil).

 

Maria João Marques
 
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Imagem de Isabel Santiago

Nos últimos dias de 2018 Donald Trump informou que iria retirar as tropas americanas do Afeganistão e da Síria. Nos meios americanos trumpistas, inclusive dos pundits de renome e nos senadores e congressistas, que, como se sabe, são dados a bazófias e a falta de adesão à verdade, esta decisão de Trump foi apresentada como ‘o fim de duas guerras’. Bom, claro que isto se deve àquela infantilidade nacional dos americanos, que ainda estão na fase de crescimento egocêntrica e não concebem que há vida para além do seu umbigo. Evidentemente as guerras não existem se os soldados americanos participam nem acabam quando os ditos guerreiros se retiram. Tanto na Síria e no Afeganistão é o que sucederá.

Na Síria os curdos, antes usados como aliados para combater o ISIS, agora estão abandonados à sua sorte. O cinismo que é o mote da atual política americana dita que se descartem os antigos e fiéis aliados. Agora foi a vez dos curdos. A Rússia e Putin ditarão a sua ordem para o país e não haverá qualquer complacência negociada para os que se opuseram a Bashar Al-Assad (alguns, mais uma vez, antes incentivados e apoiados com material militar e formação pelos Estados Unidos). Por muito que mereça críticas – e merece – a política de Obama para a Síria, deitando hidrogénio na fogueira e dificultando uma estabilização sob Assad, Trump tem de fazer o melhor com a mão que recebeu. Retirar-se e permitir que a situação arda não é a melhor opção. Ajudou à montagem da Pax Putinica na região, mas não a uma tentativa de paz duradoura. No Afeganistão é ainda mais abjeta a retirada, que abrirá as portas à influência crescente dos talibans, outra vez. Que trará instabilidade e, como se sabe, atropelos gigantescos aos direitos humanos dos afegãos, sobretudo das mulheres. Pior seria impossível.

Dentro de portas, teremos eleições europeias e legislativas. Tudo o resto constante, prevê-se que o PS seja o vencedor de ambas, eleito em formato nova geringonça ou, mais difícil, com maioria absoluta. Resta saber se teremos, pela terceira vez, uma reedição dos ciclos de seis anos de governação do PS (primeiro com Guterres, depois com Sócrates) e, findos, caem no meio de más notícias económicas. Ou se o habilidoso Costa, ajudado por má prestação do PSD na oposição, conseguirá novas maravilhas do equilibrismo. Mas isso já é para depois de 2019.

Mariana Beleza Tavares

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Imagem de Isabel Santiago

Vou virar 2019 ao leme do livro “A arte subtil de saber dizer que se f*da” (“The subtle art of not giving a f*ck”). Um * de tinta contra a parede – e não barro – de pedrada no charco, com o subtítulo “Uma abordagem contraintuitiva para viver uma vida melhor”. Não fosse o vernáculo do autor, Mark Manson (não estou a ler a versão original e na língua lusa o vernáculo pesa na alma), e aconselharia esta leitura, aos bochechos. Sou uma amante da língua portuguesa, muito pessoana nestas matérias, e se uma coisa é falar e esbracejar – e eu sou do norte – outra é escrever e eternizar, mesmo numa tradução.

Claro que o que me chamou a atenção foi o título. Esse e o apelido do autor, que devo ter meia costela de sadismo, talvez um das flutuantes. De qualquer forma, achei que seria um bom título para virar o ano, altura em que todos queremos acolher o novo com auréola e sem mácula e, que se f*oda o velho, já putrefacto na sua curva final. Interrompi, aliás, o deleite de “Uma vida pela metade” de Naipaul porque nem considerei condigna uma passagem do ano com um título carregado nas mãos. Mesmo de um Nobel. Sou básica a este ponto, sem subtilezas nem medidas meias.

Disruptiva é a rejeição do pensamento positivo, na linguagem de Manson, “que se f*da” o dito e a malta da U Penn  e de Harvard que o têm apregoado e disseminado. É o negativo o motor da evolução. As pessoas não são especiais, a procura da felicidade é um problema, as emoções são sobrevalorizadas, somos definidos pelas lutas que decidimos travar, olhar para o lado positivo faz-nos desmoronar e não fortificar. É uma abordagem contraintuitiva exposta com histórias e exemplos da própria vida. Algumas contadas e recontadas, como a história do Buda ou a metáfora da cebola. Estou a gostar, a remar contra a maré, de leme alinhado, e aos bochechos porque há que assimilar alguma novidade. E deitar fora o que não acrescenta valor. Ignorar o que não interessa na vida é uma arte subtil, mas essencial à sobre e boa vivência.

A arte subtil de dizer que se f*da 2018, e que 2019 vai ser um ano do caraças, nem que seja porque vamos andar ébrios de tanto vinho, como nos deseja genialmente a temida influencer, Maria João Marques.

Segue cocktail de perspectivas, previsões neste ano regido por Marte (já vos disse que sou pessoana? Quem for à Casa Fernando Pessoa que veja bem o desenho de boas-vindas no chão, logo à entrada, antes de me desamigar): Marte é o guerreiro, o planeta da ação, da fortaleza, da coragem e da impulsividade, dos muitos inícios e algumas finalizações, descrevê-lo-ia numa palavra como avassalador. Do aumento dos conflitos entre países e pessoas, abalroamentos em mercados e tiroteios em escolas, tragédias em fronteiras e gaiolas desumanas, mais raiva e surtos de violência, desastres naturais e acidentes (aconselho cuidado redobrado nas estradas). Começo a ficar assustada por estar a ler este Manson e tentada a pegar novamente em Seligman ou Ben-Shahar, positividade volta que estás perdoada. E venha ela, baseada nesta linguagem simbólica: Marte é também a energia das realizações, a coragem para enfrentar a adversidade, as novas caras, ideias e descobertas. Podem parecer generalidades. E até são porque o ano está a acabar – e eu não tenho tempo de aprofundar! Mas não são balelas. De todo. Se puderem reter uma mensagem, tenham cuidado redobrado ao volante.

Randomly, porque são vários os desejos, aspiro a pequenas acções com grande impacto no planeta: recusar palhinhas, banir fortemente o plástico. A quem de direito: invente uma forma de sair do whastapp sem sermos descobertos e acusados de escapar ao rebanho, até pactuo com a decisão radical de acabar com os grupos de whatsapp, ou de haver número limitado, por exemplo quatro. E que no próximo Natal, quando Trump perguntar a uma criança  “Do you still believe in Santa Claus?”, que esta, sob os desígnios de Marte – ou visto a capa do “The subtle art of not giving a f*ck” na cabeceira dos pais – lhe responda “If you are real, everything is possible, (you piece of sh*t)”.

Miguel Ângelo Matos

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Imagem de Bruno Barata

Os millennials, – a geração de jovens que, em princípio já nasceu sob os efeitos nefastos mas, sobretudo, fascinantes e luminosos da internet – somam e seguem sendo a mais importante classe de consumidores. E como é que eles mudam e vão mudar as tendências do mundo das compras? É uma tendência em grande evolução mas tudo indica que as compras online (que cresceram  significativamente em Portugal desde o início da década. Hoje, perto de quatro em cada dez residentes compram produtos ou serviços através de um computador ou telemóvel, embora ainda longe das médias europeias) se vão tornar exponencialmente diferentes em 2019. Num artigo de Financial Times deste ano, foi possível observar que os millennials querem produtos locais, originais, orgânicos e de confiança. Isto deverá trazer uma reviravolta na aproximação que as grandes corporações têm a estes consumidores e abrir novos obstáculos às grandes empresas e marcas. Novos obstáculos, como se sabe, são novas oportunidades.

 

Pedro Braz Teixeira

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“É muito difícil imaginar boas notícias para 2019, com a provável excepção de nova redução do desemprego em Portugal e a estreia de novos partidos no parlamento.”

 

Ricardo Arruda

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2019 vai ser um ano instável e por isso difícil de prever. Na América, Trump vai ter pela frente um Congresso Democrata, uma economia a arrefecer e a conclusão da investigação Muller. Irá resistir, reagir ou desistir? Tudo em aberto. Na Europa, o Brexit terá de uma forma ou outra a sua primeira fase concluída sem terminar a cacofonia em curso no Reino Unido; a autoridade de Macron continuará a diminuir e os movimentos populistas na Itália e Europa de Leste continuarão a ganhar força (e curiosamente também os de contra-populismo, como está a começar a acontecer na Hungria). O quadro será de abrandamento económico na exacta altura em que o Banco Central Europeu corta, prematuramente, os seus estímulos. Em Portugal o PS ganhará as eleições, muito provavelmente sem passar dos 40%, o que coloca a questão de que arranjo governamental se seguirá, particularmente quando tanto o BE como o PCP já extraíram todas as concessões possíveis. Haverá mais uma crise de alma e liderança no PSD a partir de Outubro e um gradual enfraquecimento económico ao longo do ano, lado a lado com mais greves e protestos dado que a “austeridade” não morreu. Centeno atingirá o mítico deficit 0% e não quererá voltar a ser Ministro das Finanças. No Brasil entra em cena Bolsonaro, com uma equipa e ideias sui generis e imprevisíveis, na Venezuela continua Maduro e um povo a morrer de fome. A China continuará a fortalecer a sua influência mundial ao mesmo tempo que vai tentar navegar o seu próprio abrandamento económico e o conflito protecionista com a América. A seguir com atenção: Rússia, Síria, Turquia, Arábia Saudita e Coreia do Norte; eleições na Índia e Nigéria; o novo serviço streaming da Disney; mais descobertas na alteração do genoma humano; inteligência artificial; os primeiros smartphones 5G; mais ramificações do Me Too; retorno à Lua (desta vez pelos chineses); mais vagas de calor extremo; volatilidade nas acções e no petróleo; crise no comércio tradicional não digital. Finalmente cá estaremos todos no fim do ano mais uma vez a lamentar a falta de diversidade de género, de etnia, de orientação sexual nas maiores empresas, nos Parlamentos, nos Óscares, nos laboratórios, à qual nos darão o consolo de que uma mítica “paridade” será atingida em 2200. Podia e devia ser tudo muito melhor.

 

Sofia Afonso Ferreira

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Prevejo um 2019 frenético em termos políticos com três eleições a decorrer – Europeias, Madeira e Legislativas – , e o agravar das contestações sociais que sentimos ao longo deste ano. É um exercício viciante assistir ao acto de teatro do Governo quando o ensino, os serviços de saúde e os transportes públicos funcionam pior que os famigerados anos da troika. Por esse motivo, e indo contra sondagens encomendadas e os profissionais do opinativo, prevejo a vitória incontestável da direita.

 

 

Ao longo do dia acrescentaremos os dois cêntimos sobre 2019 de outros autores.

 

1 COMENTÁRIO

  1. Análises lidas bem sintetizadas para melhor serem compreendidas…mas temos de ser optimistas no que se refere à maior participação, no futuro, em actos inerentes do direito à cidadania activa…dos abstencionistas do passado, de modo a evidenciar as falácias que sustentam a realidade virtual do poder construida para nos fazer crer que que estamos a viver em ambiente de democracia (imposta por minorias) e com desenvolvimento sustentado.O ano de 2019 com eleições à vista tem de ser o ano das opções certas sustentadas em ideologias milenares onde o conceito de esquerda e direita não terá significado por ser o passado, que não pode ser reeditado no presente, se quisermos ter um futuro onde nos assegurem os nossos direitos, liberdades e garantias, onde as medidas de segurança necessárias aumentarão a liberdade dos cidadãos, com planeamento a médio e longo prazo, em vez de arestringirem a liberdade, com a desculpa de só assim o poder vigente poderá garantir a segurança… a curto prazo.PA.

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