
Quem é Jean-Claude Arnault? Esta é a pergunta que percorreu o imaginário dos seguidores do Prémio Nobel da literatura, depois de se saber que este ano não seria escolhido um novo nome, algo que não acontecia desde a II grande guerra, uma pausa entre 1940 e 1943.
Fui chamado ao assunto pelo que li no mural da escritora Maria Manuel Viana, que deu grande destaque ao assunto. Diz, a certa altura, que Arnault é um “desconhecido em França, pouco ou nada se sabe dele: apresentava-se às vezes como um antigo director de ópera, outras como alguém com um passado relevante na cultura francesa ou ainda como filho-família, educado por amas ou como jovem revolucionário do Maio de 68.”
Casado com Katarina Frostenson, poeta, académica e tradutora, o personagem bizarro foi condenado a dois anos de prisão, fruto da acusação de assédio e violência sexual por 18 mulheres. Vários membros da Academia Sueca saíram em sinal de protesto, acusando a instituição de não ter sabido lidar bem com o assunto.
O prémio voltará em 2019, onde serão anunciados dois nomes. Mas como foi possível Jean-Claude ter vivido tantos anos em absoluta impunidade? Nos comentários que troquei com M. M. Viana, diz-me, mais à frente, que “ele se dizia descendente de aristocratas russos”, um “mentiroso compulsivo, abusador, traficante de influências (chamava a si próprio o 19º jurado do Nobel) e, sobretudo, tinha demasiado poder.”
Questiona, também, como lhe foi permitida tanta liberdade para atacar tantas vítimas que, como é natural, tiveram medo de o denunciar. Acrescenta que “até a princesa ele assediou, pondo-lhe a mão no rabo – e a questão não está em ser a princesa, obviamente, mas no facto de ela ter ao pé assistentes pessoais e guarda-costas, que intervieram logo.”
Maria Manuel termina dizendo que “como argumento de filme, é imbatível” e deixa-nos uma pequena biografia do predador: “nascido em Marselha em 1946, estudou para electricista e, sendo o pai negociante de madeira, tê-lo-á encarregado de levar para a Suécia uma encomenda de um cliente, entre 1968 e 1969, viagem da qual nunca regressou.”