A arte de fazer malas. Conselhos de uma ex viajante frequente.

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É uma verdade universalmente reconhecida que está out viajar com demasiada bagagem atrás. A forma de se reconhecer o viajante (bem, deixemos as pretensões: a viajante, que o mercado alvo deste texto são as devotas senhoras) frequente e batido é a capacidade de viajar com pouca bagagem. Já passaram há várias décadas os tempos dos carregadores dos grandes baús dos comboios ou dos transatlânticos. Agora é self service. Somos nós que carregamos a bagagem e é bom que, em viagem de trabalho ou de (yesssss!) lazer, não cheguemos ao destino com umas contraturas nas costas à conta de levantar e puxar várias malas pesadas. E mesmo que uma senhora viaje acompanhada de um cavalheiro com maneiras que põe e tira as malas no aeroporto, bem, também não queremos dar cabo do romance com o (compreensível) mau humor que carregar pesos absurdos gera, nem comprometer os prazeres sexuais da viagem ocasionando no dito cavalheiro a tal da contratura (sim, eles também sofrem disso).

Pelo que o melhor é simplificar e usar da sensatez.

Disse simplificar e usar da sensatez em se tratando de férias?! Bom, na verdade disse, mas simplificação e sensatez não são sinónimo de roupa incaracterística nem imagem desmazelada durante as férias. É possível manter a boa aparência sem sofrer de contraturas musculares ou pagar excesso de peso nas viagens de avião.

E, para este fim, vou dar os meus inigualáveis conselhos. A Vogue já o fez, porém, na nossa humilde opinião, concentrou-se nos produtos cosméticos e, valha-nos deus, tal não basta para garantir uma bagagem parcimoniosa mas eficiente na hora de nos manter atraentes durante as férias. Eu sei que muita gente já abalou para os seus destinos veraneantes, contudo há muito quem ainda esteja a praguejar por ter de fazer malas e até os que já partiram este ano voltarão a ter férias. É aprender.

1. Levar embalagens pequenas de champô, hidratante de corpo (nunca, nem que corra perigo de vida e precise de fugir para férias à pressa, se esqueça de um bom hidratante; nada mais desconfortável que a pele seca do sol e da água salgada ou da piscina), gel de banho (se for o caso). Eu sei: por cá somos uns rústicos e não temos o bom hábito das embalagens pequenas para viagem disponíveis à venda por todo o lado. Há os frascos pequenos da Kiehl’s e pouco mais. Em Inglaterra qualquer Boots decente tem uma secção de viagem repleta de embalagens de tamanho minorca. Por cá, népias. Temos as lojas de cosmética natural com embalagens menores, e nas parafarmácias começam a existir conjuntos de viagem. Também se encontram pastas de dentes pequenas da Colgate nos supermercados. Escolha as escovas de dentes dobráveis, que ocupam metade do espaço. É aproveitar o que consegue.

2. Colecione as amostras que lhe vão dando na perfumaria. Muito melhor levar umas tantas saquetas pequenas com creme de olhos, séruns vários (sim, séruns vários) ou hidratante para a cara do que os bons dos frascos com os ditos produtos. Para desmaquilhar ou limpar a pele antes de dormir, compre uma embalagem pequena de água micelar (que se pode usar para os olhos, viva a polivalência). Também há agora razoáveis toalhetas desmaquilhantes – péssimas para um uso continuado, mas perfeitas para viagens. Se está a pensar passar as férias sem limpar a pele da cara ou hidratá-la, pare já de ler este texto, sff, que não é merecedora do meu desvelo explicativo. A pele está a apanhar sol, pelo que mais sensível, donde tem de ser muito bem limpa e hidratada. Não, o sabonete normal do hotel ou casa ou o que seja não é opção.

3. Vá guardando as embalagens dos produtos do costume que estão quase a terminar. Leve o boião com hidratante no fundo, o frasco com perfume já a escassear, o tratamento leave-in para o cabelo só com meia dúzia de porções lá dentro – e está a perceber a ideia. Assim não poupa no volume, mas poupa no peso. E, no regresso, basta não trazer as embalagens (que nessa altura já estarão vazias) e desta forma ganha espaço para trazer um recuerdo das férias.

4. Seja versátil. Não leve roupa fria e roupa quente. Leve peças frescas e junte casacos ou écharpes que possa colocar (ou não) por cima se estiver frio. Os bikinis e fatos de banho podem lavar-se e secar facilmente, não precisa de um para cada dia. Embale o que vai de facto vestir. Exercite a sua capacidade de decisão atempada. Pense no que vestirá e quando e leve apenas isso. É merecedora do opróbrio da humanidade se levar roupa em excesso ‘para depois decidir e vestir o que apetecer na hora’. O mesmo para sapatos, carteiras, acessórios da mais sortida variedade.

5. Livros. Claro que se quiser mesmo ler aquele livro o melhor é pô-lo na mala. Leve livros pequenos (contos, livros de bolso,…) para a viagem de avião. Não quer andar carregada com um tijolo na carteira durante a viagem, pois não? E na verdade também não precisa de escolher nenhum livro para a bagagem que vai despachar de mais de 400 páginas. Nas férias lêem-se livros pequenos, que não pesam, são bons para levar para a praia e estão terminados na altura do regresso. Outra boa ideia é não levar livros. Há aeroportos com livrarias interessantes. Se passar por algum deles, já sabe, pode ir comprando estes bens de primeira necessidade no caminho. (Não menciono esse objeto do demo que é o kindle. Recuso-me.)

Boas férias, então. E, calhando não seguir os meus avisados conselhos, não se esqueça de por na mala uma pomada de arnica e um anti-inflamatório, para lhe aliviar a contratura que carregar malas pesadas causará.

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Mãe de dois rapazes e feminista (das duas características conclui o leitor inteligente que não quer exterminar os homens da face da Terra). Licenciou-se em Economia ao engano, é empresária, mas depois encarreirou para os Estudos Orientais, com pendor para a China. É cronista do Público e escreve ocasionalmente ensaios sobre livros e leituras na Ler. Já foi blogger e cronista do Observador e Diário Económico. Considera Lisboa (onde nasceu e vive) a cidade mais bonita do mundo, mas alimenta devaneios com Londres e Hong Kong.

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