“- Mãe, estás a fazer o jantar porquê? É o pai que costuma fazer o jantar.”
Quando alguém diz que os rapazes devem ser educados para o feminismo eu hesito entre bater com a cabeça na parede ou respirar fundo e perguntar como é que funcionam as coisas lá em casa.
Eu explico, sou mãe de um rapaz e de uma rapariga e ambos recebem a mesma educação e o mesmo exemplo. E o exemplo começa pela igualdade e o respeito entre o pai e a mãe. Em nossa casa o aspirador e o pano do pó não são propriedade da mãe, o pai lava a loiça, faz o jantar, vai às compras, leva os miúdos à escola e ao médico e trabalha, como a mãe. Não existem tarefas da mãe e tarefas do pai. Não existe a figura autoritária do pai e a figura permissiva da mãe. Não existem ameaças físicas nem psicológicas, não existe violência física nem verbal. Nunca é demais lembrar que filhos que crescem em ambientes abusivos têm grande probabilidade de se tornarem adultos agressores.
As crianças são esponjas e o respeito pelos outros e por si mesmas ensina-se pelo exemplo, por terem uma mãe que trabalha, que é independente, que se respeita e é respeitada e por terem um pai que se rege pelos mesmos princípios.
Recuso-me a educar o meu filho como futuro agressor e a minha filha como futura vítima.
Eu educo-os para serem corajosos, independentes, honestos e para que se respeitem e respeitem os outros. E estes não são princípios exclusivos do feminismo, são pilares básicos para uma sã convivência em sociedade, sem discriminações ou abusos de qualquer género.
Hoje são crianças de três e cinco anos, cujas questões nos aparecem na medida da idade que têm. Outras irão surgir com o tempo, como o valor do seu corpo, a não discriminação das mulheres no local de trabalho, a violência, o assédio, mas se as bases estiverem lá tenho esperança de que se irão tornar em adultos responsáveis e respeitadores dos outros. E a esperança também entra nestas contas. Os pais fazem a sua parte, esforçam-se para serem um bom exemplo, com ações e não apenas com palavras, e o resultado será uma mistura desse exemplo, da personalidade dos filhos e de uma boa dose de sorte.
Por isso, não, não educo os meus filhos para o feminismo. Educo-os para o humanismo.