Olho para a polémica em torno do anúncio da DGS de que as princesas não fumam e não sei se ria ou se chore, por um lado dá-me vontade de rir que uma mulher se incomode ou que se sinta diminuída por lhe chamarem princesa, é quase o mesmo que dizer que é menos respeitável por usar minissaia ou pintar os lábios com bâton vermelho, por outro dá-me vontade de chorar por não ver as mesmas mulheres se indignarem com questões realmente discriminatórias.
Pensem comigo, ganhamos menos que os homens, não progredimos na carreira de igual forma, somos discriminadas quando somos mães, gastamos mais horas que os homens nas tarefas domésticas e a cuidar dos filhos, os números da violência doméstica mostram-nos uma guerra civil, somos discriminadas nos cuidados de saúde, pensem em como a nossa dor é encarada em comparação à dor dos homens, somos vítimas de assédio sexual e moral no local de trabalho e a indignação passa por um anúncio, que por sinal se dirige a um grupo onde o consumo de tabaco continua a aumentar, porque se atreve a chamar a uma criança de princesa?
Como se uma mulher seja hoje condicionada por ter sido chamada de princesa, ter vestido saias, brincado com loiças, bonecas, usado folhos, laços no cabelo, por gostar de cor-de-rosa, dos saltos altos da mãe ou de brincos e maquilhagem. Que canseira.
Existem várias coisas que nos são mostradas neste anúncio, umas bem e outras não tão bem conseguidas: é um anúncio feito para mulheres, sobre a nossa saúde e não sobre pensos higiénicos, pensaram em nós para variar, as mulheres fumadoras continuam a aumentar e é preciso falar sobre isso, fumar em frente aos filhos é um mau exemplo e para explicar isso o pai também podia estar a fumar e explora a culpa materna e as mães são peritas em sentir culpa, não precisavam desta ajuda extra, mas se os meios justificarem os fins, por mim é passar o anúncio a toda a hora e falar sobre o assunto que realmente interessa: o tabagismo.
Mas, escolheu-se olhar para este anúncio e discutir questões de linguagem, optou-se pelo politicamente correto e pelo policiamento do que pode ou não ser dito, do que discrimina ou não uma mulher, pela indignação capaz de lápis azul na mão e pela queixa à CIG, que obviamente não deve ter mais nada que fazer e não se falou de saúde ou de tabagismo. Optou-se por ridicularizar o feminismo e tanto que é necessário um feminismo a sério na nossa vida.
Quanto a mim, podem chamar-me princesa que eu deixo, continuem a preocupar-se com a minha saúde e já agora façam com que me paguem um ordenado equivalente ao dos homens.