O cisma liberal – parte 2

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Muito poucos sabem, mas eu ainda cheguei a trabalhar durante vários anos (mais ou menos 9… um pesadelo…) antes de me tornar académico. Foi uma experiência importante para mim – até então nunca tinha perdido tempo na vida. Hoje em dia dedico-me ao Squash e, nos tempos livres, investigo e escrevo sobre as origens do capitalismo moderno. Dentro deste tema que pode parecer interessante a alguns, eu dedico-me a uma especificidade bastante obscura. A razão desta minha preferência é simples: quanto mais obscuro for o tema que investigamos menos pessoas se interessam pelo mesmo. Isto permite auferir um salário sem dar muito nas vistas (leia-se: sem ser obrigado a conhecer ‘coleguinhas’ em conferências aborrecidas) e, assim, viver uma vida sossegada.

Há pouco tempo verifiquei (com bastante agrado, diga-se) que a minha estratégia na vida académica traz vantagens ao nível daquilo que considero ser o meu ativismo político. Aqui há atrasado fui forçado a ‘googlar’ a Fernanda Câncio… não fazia ideia de quem era… Li um parágrafo do que essa rapariga escreveu naquele dia e bastou para não ler mais nada até hoje… há coisa de umas semanas voltei ao ‘google’, desta vez para averiguar quem seria uma tal de Helena Roseta (aquela senhora que propõe roubar as casas dos outros, certo?). Sempre que estas coisas me ocorrem, os meus amigos dividem-se. Uns invejam a minha vida de luxo a qual me permite não conhecer inúteis; outros arriscam alertar-me para a minha vida alienada. ‘Alienação’ acaba por ser um termo Marxista bastante útil: parece-me que alienado está quem ainda lê a menina Fernanda, a inqualificável Roseta, o filho do papá do Daniel Oliveira, o órgão do regime (vulgo Diário de Notícias); ou assiste sem apoio de estupefacientes à Quadratura do Círculo, à Noite da Má Língua ou a qualquer momento que envolva o Galamba. Nomeei todas estes elementos do património cultural Português para demonstrar o meu domínio do ‘google’. Na verdade não leio, não vejo e muito menos quero saber de tudo isto. E também quase nada sei da triste vida partidária Portuguesa, a qual está ao nível das luminárias acima referidas.

Por isso mesmo, tarde percebi que havia por aí um partido liberal (ou será 2?…). O mesmo não despertou em mim qualquer tipo de interesse: não li o seu programa, não sei quem o dirige (disseram-me que tem dirigentes, o que o torna logo por definição num partido socialista….), nem sequer sei se já se rendeu e foi ao Tribunal Constitucional entregar ‘meia dúzia’ de assinaturas. Dizem-me que sim, que o tal partido liberal (ou será mais do que um?…) já prestou a devida vassalagem ao Estado. Mas desta vez não ‘googlei’… os ‘googlanços’ anteriores foram traumáticos, por isso desta vez não arrisquei.

Mesmo assim, após anos a proteger-me e a tentar levar uma ‘vidinha’ sossegada, eis que vários amigos (claramente invejosos da vida que levo) me informam de mais um cisma liberal: dizem por aí que quem não é do tal partido liberal está acomodado no sofá… e isto, dizem-me, gerou grande polémica ‘facebookiana’… parece que desta vez não é possível ‘googlar’ este facto pois o debate ocorreu em grupos do Facebook… Por isso ‘facebookei’ em vez de ‘googlar’. Deu no mesmo: arrependi-me imediatamente. Investi nisto pouco tempo, mas deu para perceber 3 coisas…

Em primeiro, não sou membro de alguns grupos envolvidos na guerra e desconheço de todo a vasta maioria das/dos intervenientes na chacina. Isto foram para mim excelentes notícias e a prova que a minha estratégia de vida é um ‘must’!

Em segundo, percebi que muitos não percebem que é complicado ser ‘liberal puro’ (coisa que não sou) e querer mudar o mundo por via legislativa. Quase tão complicado como ser anarco-capitalista e colocar os filhos a estudar no ensino oficial (mesmo que privado… se for de contrato de associação então é que é de rir…); como ser ‘liberal puro’ e candidato a fundos Europeus (os meus favoritos); ou como ser ‘liberal-conservador’ (vi este nome por aí…) e não acreditar que o mundo muda por via legislativa a não ser que estejamos a falar das leis que já temos. Conclusão: ser liberal é muito complicado. Na verdade, é praticamente tudo socialista…

Em terceiro, percebi que tenho uma vida de sonho: entre o sofá e o Squash…

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Ainda cheguei a trabalhar durante vários anos antes de me tornar académico. Foi uma experiência interessante - até então nunca tinha perdido tempo na vida. Hoje em dia investigo (algumas horas por dia) e escrevo (nos intervalos do squash) sobre as origens do capitalismo moderno (nos séculos XVI e XVII). O tema específico a que me dedico é bastante obscuro, o que me permite auferir um salário sem dar muito nas vistas e, assim, viver uma vida sossegada. Há pelo menos duas editoras interessadas em publicar um livro que estou a escrever e que ninguém, felizmente, irá ler...

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