Coronavirus nos Países Baixos – Onde (ainda) há papel higiénico nos supermercados

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Sim, o Coronavírus (‘CODVID-19’) também chegou às terras baixas.

E face à insistência, de uns quantos, em divulgar informação incorrecta (saberá Deus com que intenção) sobre a estratégia aqui adoptada no combate ao Coronavírus não me cabe outra opção senão pôr os pontos nos ‘is’.
Ora vamos lá.

Se tivéssemos que atribuir um nome à estratégia adoptada pelo governo dos Países Baixos (isto quando se podia dizer ‘Holanda’ era muito mais prático) no combate ao Coronavírus esse nome poderia ser ‘Controle de Velocidade de Contágio do Vírus’. O que isto significa é que o governo está a adoptar medidas que acautelem que o contágio é apenas gradual e não súbito, de modo a assegurar que os serviços hospitalares e especialmente de cuidados intensivos tenham capacidade para tratar todos os doentes que deles necessitem (e isto é substancialmente diferente de uma política de contágio de grupo, ou ‘herd immunity’, eventualmente adoptada em outros países).

E qual é a base de tal política, perguntarão? A resposta é simples – o número máximo de camas de cuidados intensivos disponíveis, totalmente equipadas com ventilados e demais aparelhos e operadas por pessoal médico e técnico especializado adequadamente protegido e equipado, que hoje ascende a 2.400 camas. E porque é este número tão importante? Porque no momento de não existirem camas de cuidados intensivos suficientes para todos os que delas necessitem vamos ter que escolher entre salvar a vida a um ou a outro! E esta é a realidade! Em qualquer hospital, em qualquer país do mundo! Diga-se o que se disser…

Mas para melhor se compreender este ‘approach’ precisamos aqui de algum enquadramento.
O povo dos Países Baixos é muitíssimo pragmático, e tudo por aqui se rege por factos. Factos que originam números, que criam regras, que determinam prioridades.
Ora, na política de combate ao Corona não poderia ser diferente.
Então, se o número de camas de cuidados intensivos disponíveis vai determinar que número de doentes graves podem receber tratamento hospitalar adequado, temos de fazer tudo para que o número de doentes graves não ultrapasse o número de camas. Certo?

O mesmo raciocínio foi adoptado com relação aos testes de diagnóstico. O governo não tem testes nem meios suficientes para testar toda a população (de 17 milhões). Então quem vai ser testado? Todo o pessoal médico e auxiliar vai ser testado regularmente e todos os que dão entrada nos hospitais com sintomas graves ou muito graves também. Então e os que têm sintomas mais leves? Esses não são testados – é-lhes recomendado ficar em isolamento em casa. O resto da população também não é testada. Razão: Não há testes para testar todos e criaram-se prioridades. Lógico, não é?
É isto que significa ser pragmático em ‘Holandês’!

Então e que medidas foram adoptadas para garantir que no País das bicicletas e dos moinhos de vento não se chega ao ponto de ruptura do sistema hospitalar como o mundo assistiu, com grande consternação, acontecer em Itália e em Espanha?

O governo impôs diversas medidas que ficarão em vigor até pelo menos dia 28 de Abril.
Regras básicas: Todos os residentes devem manter distanciamento social e ficar em casa tanto quanto possível, trabalhando de casa sempre que viável. Se se tiver algum sintoma de gripe ou constipação ou se se for pessoa de risco, ficar em casa. Caso tenha que sair de casa, manter sempre uma distância mínima de 1,5 metros de outra pessoa. Eventos e reuniões com mais de 3 pessoas estão proibidos (com algumas excepções).

O que está fechado? As escolas e as creches, restaurantes, cafés, discotecas e bares, cabeleireiros, institutos de beleza e saunas, estabelecimentos desportivos, casinos e ‘sex clubs’, museus, teatros, locais de concertos e clubes desportivos.

O que continua em funcionamento? Lojas e supermercados, empresas, mercados e transportes públicos (inclusive aviação mas com muitas limitações), ‘take-aways’ e entregas de comida ao domicílio, ‘Coffee-Shops’ (nome dado aos locais de venda controlada de drogas leves), por se temer que se fechassem dariam aso a vendas em mercado negro, parques de campismo, parques naturais e praias, estão todos em funcionamento na medida em que cumpram algumas regras básicas, caso contrário serão imediatamente encerrados.

E sabem que mais… todos estamos a respeitar as medidas que o Primeiro-Ministro Mark Rutte anunciou ao país. E sabem porquê? Porque se não respeitarmos sabemos que vão haver mais doentes do que camas. E se esse momento chegar já está pré-determinado quem vai viver e quem vai morrer nos Países Baixos. Mas ninguém quer chegar a esse momento. Nenhum médico, nenhum governo, nenhuma sociedade…

 

Uma última nota para os mais distraídos. ‘Países Baixos’ (‘Reino dos Países Baixos’ ou ‘Koninkrijk der Nederlanden’) é o nome oficial desde 1815, embora os limites territoriais não fossem idênticos ao que são hoje. O termo ‘Holanda’ ainda pode ser utilizado mas apenas para referir duas das 12 províncias dos Países Baixos, ‘South-Holland’ e ‘North-Holland’. Recentes notícias na media a este propósito referem-se a uma campanha de ‘rebranding’ que o governo dos Países Baixos está a patrocinar com o objectivo de limitar o uso do termo ‘Holanda’ por acreditar que o mesmo está associado a uma imagem do país com drogas e prostituição.

6 COMENTÁRIOS

  1. Obrigada Rita.
    Esse erro é da minha preferência. Até o meu filho já goza cominho por o estar sempre a corrigir.
    Sim, o verbo haver com sentido de existir, é impessoal, não se conjuga no plural.
    Fico muito feliz por haver quem esteja atento e tenha a ousadia de intervir.
    Outro a que eu também estou sempre alerta é:
    >> Há muitos anos atrás.
    Nunca seria, há muitos anos à frente. Exactamente como >> subir para cima.
    Abraço

    • Olá Zeca. Eu sou a Rita. Obrigada por ter lido o meu artigo. Espero que tenha gostado. Confesso que uma das razões pela qual recomecei a escrever (para além de adorar escrever) foi para me forçar a reaprender Português. Por personalidade (e também por motivos profissionais) sempre fui muito exigente com o ‘meu’ Português, mas talvez por não viver em Portugal há já bastantes anos o Inglês foi conquistando espaço e o Português perdendo. Agradeço ter apontado a minha falta – esta já reaprendi. Se tiver o tempo e o gosto de ir lendo os meus artigos e apontando eventuais outras faltas o meu Português agradece-lhe. Até breve. Rita

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